Os forasteiros que batizam as ruas de Natal – Bernardo Vieira de Melo
Este texto nasceu a partir de conversa que tive há certo tempo com o amigo e colega professor João Maria de Lima e também foi motivado pelo comichão que vez por outra acomete autoridades brasileiras de quererem mudar o nome de ruas, avenidas, estádios de futebol, etc. Aqui em Natal tentaram, ano passado, homenagear Nevaldo Rocha desomenageando Salgado Filho, dando o nome do primeiro à avenida que carrega o nome do segundo. Recentemente o prefeito Álvaro Dias enviou projeto propondo mudar o nome da avenida Bernardo Vieira para Nevaldo Rocha (https://agorarn.com.br/ultimas/alvaro-dias-envia-a-camara-projeto-para-mudar-nome-da-avenida-bernardo-vieira-para-avenida-nevaldo-rocha/).
Nevaldo Rocha é, por tudo o que fez pelo Rio Grande do Norte, merecedor de muitas homenagens, mas sem que Salgado Filho ou Bernardo Vieira paguem por isso.
Salgado Filho era gaúcho e portanto deveria ser homenageado no Rio Grande do Sul, chegaram a dizer. Já ouvi o mesmo argumento aplicado ao pernambucano Bernardo Vieira.
Ademais, se a questão é o fato de Salgado Filho ser gaúcho e Bernardo Vieira pernambucano e não potiguares, deveríamos mudar os nomes de muitas das ruas e avenidas da cidade: Prudente de Morais, Hermes da Fonseca, Alexandrino de Alencar, Rio Branco, Deodoro da Fonseca, Ayrton Senna, etc.
Pretendo escrever sobre as pessoas que dão nome a algumas ruas, avenidas, praças, etc de Natal.
Já cheguei a brincar com um amigo dizendo que se é para mudar, eu começaria mesmo, seguindo a irritante e autoritária agenda politicamente correta, mudando o nome da avenida Bernardo Vieira, pois Bernardo Vieira de Melo nasceu em Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco e, quando governador e capitão-mor (1695-1700) na então capitania do Rio Grande (do Norte), foi responsável por combater grande rebelião indígena, evento histórico conhecido como Guerra dos Bárbaros ou Confederação dos Cariris, iniciando o extermínio de boa parte dos índios.
Pouco depois, Bernardo Vieira esteve, com o paulista Domingos Jorge Velho, na linha de frente aos quilombolas de Palmares, sendo um dos comandantes no ataque final contra o Quilombo, que, cercado, foi destruído e os rebeldes mortos ou vendidos como escravos. O final da história é relativamente bem conhecido: ferido, Zumbi fugiu, mas, traído por antigo aliado, foi preso, morto e sua cabeça exposta pelo governador de Pernambuco Caetano de Melo e Castro (1693-1699).
Depois de governar o Rio Grande (do Norte), Bernardo Vieira retornou, em 1700, para Pernambuco, onde foi nomeado Comandante do Terço de Linha do Recife e teve participação decisiva na Guerra dos Mascates (1709-1710), que pôs em lados opostos os comerciantes portugueses sediados no povoado de Recife e os senhores de engenho da cidade de Olinda.
O conflito eclodiu quando foi publicada Carta Régia, em 19 de novembro de 1709, que elevou o então povoado do Recife à categoria de Vila, com posterior colocação do pelourinho, símbolo da autonomia municipal, na nova vila, em 15 de fevereiro de 1710.
O nome de Bernardo Vieira avulta quando, vereador no Senado da Câmara de Olinda, propôs, em 10 de novembro de 1710, a independência do Brasil, livrando-o do domínio português. Vale ressaltar que não há documentação que comprove a moção proposta por Bernardo Vieira, pois a ata dessa reunião nunca foi encontrada. De qualquer forma, a polêmica proposta, verdadeira ou não, foi responsável por todos os problemas por ele enfrentados: sofreu emboscada, foi perseguido e foi estabelecido prêmio por sua cabeça.
Depois de se entregar às autoridades, ficou inicialmente preso na Fortaleza do Brum e depois foi transferido para Lisboa, onde morreu na cadeia de Limoeiro, em 10 de janeiro de 1714, sendo sepultado no Mosteiro do Carmo, Portugal.
Em tempo: para quem não entendeu, permaneço contrário à mudança de nome de qualquer logradouro da cidade.