O golpe do contra-golpe

por Sérgio Trindade foi publicado em 24.nov.24

Se o objetivo de toda a operação ora em curso for tirar da vida pública Jair Bolsonaro e seus golpistas reais e não imaginários, concluído o devido processo legal, estará tudo certo.


A maioria da sociedade parece apoiar, muito embora o número dos que aprovavam uma intervenção militar, à época em que ela ventilada e/ou urdida, fosse bem superior aos que atualmente querem ver golpistas na cadeia.
Se se levar em conta os que cogitaram o golpe, planejaram e iniciaram sua execução e também os que viam com bons olhos a iniciativa, não haveria lugar para tanta gente no sistema penitenciário.
Desconfio, porém, que não é apenas esse o objetivo, a saber, prender Bolsonaro e seus aliados.
Bolsonaro já está inelegível. Se condenado e preso, não representará ameaça alguma à democracia, mas ainda terá forte apelo eleitoral e ninguém do campo da direita abrirá mão do apoio dele. Logo, o ex-presidente ainda representará forte ameaça eleitoral. Por isso, talvez seja necessário limpar o caminho, impedindo que os aliados de Bolsonaro, o “martir encarcerado”, possam concorrer com chances de desafiar a continuidade do PT no governo.
Não demorará muito e logo serão feitos balões de ensaio para capturar e envolver na trama golpista lideranças como Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado e outros, lançando uma sombra de suspeição sobre qualquer um que ouse desafiar o PT.
A estratégia segue o mesmo padrão dos golpes que não se apresentam como golpes.
Para ficar num exemplo, o golpe de 1964 foi feito, segundo seus líderes, para combater a subversão vermelha e a corrupção e paulatinamente evoluiu para a cassação e a caça a qualquer um que, com voto, ameaçasse a nova ordem.
Em pouco tempo “subversivos” bons de voto, como Jânio Quadros, Juscelino Kubitschek, Carlos Lacerda e outros foram politicamente marginalizados. Os instrumentos para a consecução dos objetivos foram a montagem de um aparato legal e a criação de comissões encarregadas de investigar qualquer um que desafiasse os desígnios pretensamente revolucionários e a nova ordem neles baseados.
A História é ótima professora e nós temos sido péssimos alunos.

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