Errei
Ouvir um político, ainda mais brasileiro, dizendo que errou é algo para lá de inusitado.
Admitir erro, para os políticos, é atestado de fraqueza e de incompetência. Por isso, a virada do governador Tarcísio de Freitas sobre o uso de câmeras pelos policiais está rendendo um bocado e me fez lembra d’uma história no final de minha infância, quando eu cursava a 4a série do 1o grau (hoje 3o ano do ensino fundamental).
Eu fui excelente aluno até a 6a ou 7a série do 1o grau, hoje 5o ou 9o ano do ensino fundamental. Dali até o 1a série do 2o grau fui, no máximo, aluno mediano e voltei a ser bom aluno graças a um puxão de orelhas de professor de Língua Portuguesa.
Sempre fui esforçado em Ciências, mas tinha ojeriza a decorar todos aqueles nomes de bactérias, etc.
Ao final do ano letivo mostrei o boletim ao meu pai. Ele disse: “Só 7,5 em Ciências?” e eu, indignado, respondi: “Mas pai, o resto é só de 8 para cima”. Papai encerrou dizendo: “Você só estuda. Tirar 9 e 10 é obrigação. Melhore em Ciências. No final do próximo ano conversaremos de novo”.
Ainda falta muito para elogiar um político dizer “Eu estava completamente errado”. Mas Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo deu o primeiro passo, muito embora a atitude dele seja recebida de forma ambígua – com muitos elogiando e outro tanto criticando-o asperamente.
Entre os críticos sobram julgamentos do tipo: “Está pensando nos votos que poderá amealhar”, “Quer se mostrar como palatável para o eleitor moderado” e por aí vai, como se políticos não pensassem em amealhar votos e não quisesse ganhar eleições.
Vencer eleições majoritárias exige fugir da bolha. Radicais recebem votos de iguais e isso é suficiente para vencer pleitos proporcionais.
Lembremos: o Lula de 2002, o paz e amor, foi criação do marketing pilotado por Duda Mendonça. Antes do paz e amor, Lula perdeu três eleições presidenciais, duas deles no primeiro turno. Venceu em 2022 prometendo pacificar o país.
A pacificação do Brasil exige do presidente o caminho do centro, em palavras e atos. Admissões de culpa são um ótimo caminho.