O povo que detesta política e ama políticos

por Sérgio Trindade foi publicado em 02.nov.23

É na política que a vida de um povo é decidida.

É do embate entre interesses que se realizam os acordos e os consensos que permitem a construção do mundo. Logo, nenhum de nós está livre da vida pública, mesmo que não exerçamos funções públicas. Os que exercem, concursados, nomeados para funções de confiança ou eleitos, são servidores do povo.

Aristóteles estabelece, n’A Política, seis formas de governo. Três delas são justas (monarquia, aristocracia e politeia) e três corrompidas (tirania, oligarquia e democracia). As corrompidas (defendem os interesses de grupos específicos) são degenerações das justas (visam o bem comum).

A política é a arte responsável pela administração da vida social e assim sendo tem por fim o bem comum. Ao promover o bem comum, o governante é bom. Se, porém, busca seu próprio bem ou o de grupos específicos, seu governo é mau.

O revolucionário norte-americano Thomas Jefferson, que chegou ao posto de Presidente da República do seu país, afirmou certa vez que “qualquer homem que assuma uma função pública, deve se considerar como propriedade do público”, afinal ali está para servir e não para ser servido. É empregado e não patrão.

O brasileiro comum diz não gostar de política. No entanto, é arriado por políticos. Postura semelhante tem alguns que se apresentam como dotados de pensamento crítico, mas a crítica do presumido pensamento é vetor com sentido e direção pré-definidos. Ambos, o brasileiro comum e o autodefinido como crítico, são movidos pela paixão por lideranças, não importa o quão nocivas elas sejam. E vamos e venhamos, sobre isso vale a máxima de Nélson Rodrigues, para quem nada era mais “cretino e cretinizante do que a paixão política (…), a única paixão sem grandeza, a única capaz de imbecilizar o homem”.

Um dia o brasileiro comum vai descobrir que líderes com mandato ou pessoas nomeadas por quem tem mandato são servidores públicos. Ali estão para servir e não para serem servidos. São empregados e não patrões. Quando o brasileiro reconhecer isso, deixará de venerar a quem deveria cobrar.

Se um dia isso ocorrer os nossos salvadores da pátria, os nossos messias e os nossos d. sebastiões serão mais cobrados e menos venerados. Perderão a aura que neles nós, como povo, neles depositamos e aí, lulismo, bolsonarismo, janismo, janguismo, varguismo, lacerdismo, aluizismo, agripinismo, etc serão uma pálida lembrança da nossa frágil existência.

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