Anjinhos da liberdade

por Sérgio Trindade foi publicado em 17.dez.23

A mídia corporativa merece críticas, bem como os jornalistas que nela trabalham. Disso ninguém tem dúvidas.

As críticas devem, porém, estar embasadas em argumentos consistentes e as empresas e os jornalistas que nelas trabalham não podem ser cancelados simplesmente por trazerem notícias e/ou serem portadores de análises que fujam a consensos dentro ou fora do governo ou dentro ou fora de partidos.

Acostumei-me, ao longo de minha vida estudantil e profissional, a conviver com o pior tipo de gente, aquela que só se sente segura junto a um grupo que lhe protege quando quer fazer suas canalhices e cafajestagens sob a capa de militância política e partidária, mas poucas vezes vi essa mesma gente fazer campanha tão sórdida quanto à urdida para descredibilizar e desestabilizar os jornalistas Eduardo Oinegue (Band) e, principalmente, Demétrio Magnoli (GloboNews).

Como os dois são independentes e analisam a conjuntura política brasileira e mundial sem as amarras ideológicas dos donos do poder no Brasil, são apontados, há certo tempo, a depender de quem senta na cadeira presidencial, como simpatizantes do lulismo/petismo ou do bolsonarismo.

Sei bem como é isso, porque assim já fui tratado, inclusive no local do trabalho: já fui chamado de pefelista, tucano, coxinha e bolsonarista, porque me recuso a dobrar minha coluna (sim, tenho coluna vertebral, ao contrário de muitos dos meus invertebrados colegas).

Voltemos aos jornalistas. A um deles, para ser mais exato – Demétrio Magnoli, praticamente trucidado, por petistas e associados, na rede X (antigo Twitter).

Falador de merda, cara de jaca, cara de chapisco, babaca, asqueroso, verme insuportável, canalha, ridículo e outros mais foram os xingamentos lançados contra o jornalista sem que nenhum dos “debatedores” tivesse a menor preocupação em refutar os argumentos dele. Todos, claro, acham que a GloboNews deve se portar como o Granma, jornal diário oficial do Partido Comunista de Cuba (“Órgano oficial del Comité Central del Partido Comunista de Cuba”) (https://pt.granma.cu/), ou como o Pravda (https://www.eastview.com/resources/gpa/pravda/), jornal que divulgava os feitos do Partido Comunista da antiga União Soviética.

É um pessoal tolerante com quem fala e pensa igual a ele. Qualquer um que se aventure a discordar precisa ser dizimado. Dizimado, não combatido. E tudo sob o olhar complacente de acadêmicos de esquerda, simpáticos apenas aos que lhes são iguais, ou de jornalistas que vivem na confraria ou de estudantes cevados na defesa de utopias regressistas. Em outras palavras, gente intolerante que não admite, na prática, quem pensa diferente – ainda que discursem em defesa da liberdade de pensamento e de expressão.

Uma passeada de alguns minutos pela X (Twitter) é suficiente para identificar suas vítimas preferenciais dos anjinhos da tolerância.

Os intolerantes não são apenas os guerrilheiros das redes sociais, como constato diariamente ao assistir, por dever de ofício, a vários programas de notícias – os da GloboNews entre eles. E constato o desconforto de vários integrantes da bancada com os posicionamentos de Demétrio Magnoli. Alguns deles, ressalte-se, quando se veem sem argumentos para rebatê-lo, lançam mão de todos os artifícios possíveis, menos os substantivos, para calá-lo. Até fazem beicinho e choramingam.

Um primeiro é constrangido para depois ser calado. Passado o boi, passa-se a boiada. Portanto, é preciso àqueles que querem um debate sério e profundo atentarem para os sinais que saem de todas as mídias.

Os jornalistas Demétrio Magnoli, Eduardo Oinegue (chamado de bolsonarista e atacado diariamente por fazer críticas ao governo Lula), Lygia Maria, o economista Alexandre Schwarstman (batizado de economista de boutique) e outros são alvejados, constrangidos e cancelados porque expõem seus argumentos. Quase nunca são confrontados por aquilo que pensam, mas por aquilo que são. E os que dizem confrontá-los não esgrimem um único argumento.

Recentemente as milícias digitais da esquerda apontaram suas armas para a jornalista do Estado de São Paulo, Andreza Matais, amplamente divulgado pela mídia (https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2023/11/20/presidente-do-pt-instiga-militancia-contra-jornalista-do-estadao.htmhttps//www1.folha.uol.com.br/poder/2023/11/gleisi-dino-e-felipe-neto-engrossam-onda-de-ataques-contra-jornalista.shtml) e sobre o qual eu mesmo escrevi (https://historianosdetalhes.com.br/politica/a-tchurma-e-assim/).

Dos acima citados, um (Alexandre Schwarstman) sabe como o confronto é feito, partiu para cima da militância e passou a usar algumas das armas do oponente.

Quem é atacado e ataca, ainda que para se defender, é apontado, pela matilha, e exposto para ser ultrajado por ela e por alguns que a ela são simpáticos.

A postura do sistema Globo, se marginalizar jornalistas como Demétrio Magnoli, será apenas de agência de assessoria de comunicação do governo federal, porque Magnoli tem sido, por incisivo e bem embasado, um dos poucos a falar com profundidade sobre temáticas sensíveis, fazendo contraponto a uma visão governista da realidade. Não é fácil confrontar e refutar os argumentos dele. Sobra, então, o ataque pessoal, que já começa nas bancadas do jornalismo de fontes, pouco preocupado em aprofundar o debate, mas apenas e tão-somente a repetir o que ouvem de suas fontes de informação.

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