Esseteefando
O Supremo Tribunal Federal (STF), esse palco de toga e vaidade, decidiu reagir. Foi Luís Roberto Barroso, o presidente, que ergueu a voz, por meio de uma Nota Oficial, contra a matéria da revista The Economist. Sim, respondeu. E como respondeu.
Confesso, a nota do ministro só me deixou mais perdido e mais atormentado. Minhas dúvidas são tantas que se agitam em mim como ratos num porão.
Primeira dúvida: A nota barrosa diz que o STF, altivo e independente, salvou a democracia das ameaças do dia 8 d janeiro de 2023 e do golpe de Estado. Mas eu pergunto – e pergunto com a inocência dos condenados: ao chamar os atos de “ameaças”, não estaria já julgando? Prejulgando? Não seria mais digno, mais puro e mais magnânimo que o juiz se calasse e esperasse a hora dos autos?
Segunda dúvida: A nota barrosa fala que o STF não sofre crise de confiança. Não! Jamais! Mas eis que surge a pesquisa do Instituto Opinião, com seu dedo apontando: 50% dos brasileiros não confiam no Supremo. E no Sul do país, a desconfiança chega a 60%. E eu me pergunto: Quem mente? As ruas ou as togas?
Terceira dúvida: A nota barrosa diz que o X (antigo Twitter) foi suspenso por formalidade – falta de representante legal. Só isso. Nada a ver com censura, veja bem. Mas… e a ameaça de prisão feita por Alexandre de Moraes? Quem, em sã consciência, com a espada no pescoço, assumiria o comando da empresa?
Quarta dúvida: a nota barrosa tenta limpar as palavras de Barroso. “Nós derrotamos o bolsonarismo” – teria sido o povo a dizer, não ele. Mas a memória é cruel: foi o próprio ministro quem gritou, em 12 de julho de 2023, em um evento da UNE. E disse mais: derrotou a censura, derrotou a tortura, derrotou até o bolsonarismo. Palavras não somem no vento, ministro.
Quinta dúvida: diz a nota barrosa que todos os ministros foram atacados, logo, ninguém precisa se afastar dos julgamentos. Mas a verdade é que os pedidos de afastamento têm nome e sobrenome: Alexandre de Moraes, Flávio Dino, Cristiano Zanin. Alvos específicos. Supostas vítimas. Juízes e partes misturados no mesmo corpo.
E o teatro não para. A Nota Oficial do STF acusa a revista de ser “dos que tentaram o golpe”. Ora, se já há golpe na nota, o julgamento já não é mais julgamento: é farsa, é espetáculo, é pantomima.
E eu, aluado que sou, ainda pergunto: Desde quando a mais alta corte desce à rua para brigar com a imprensa? Desde quando troca a frieza da justiça pela paixão das arenas?
Desde que ministros resolveram ser políticos ou artistas.
***
Ah, Fernando Collor de Mello! Se há justiça neste país de operetas, ele deveria ser solto, pois comparado aos tubarões do mensalão e do petrolão, Collor é sardinha. É ladrão famélico. Furtou por fome.