Lugar de fala, argumento ad hominem e assemelhados
Não é incomum ver e ouvir pessoas abismadas com o imenso número de seguidores e eleitores que tem Jair Bolsonaro, no Brasil, Donald Trump, nos Estados Unidos, Javier Milei, na Argentina, e por aí vai.
Sem justificativas e argumentos minimamente coerentes, chamam a todos de extremistas e/ou fascistas.
Qualquer um que resista a seguir as pautas modernosas ou insista em votar em candidatos não alinhados a tais pautas é extremista e fascista.
Na semana que antecedeu o segundo turno das eleições em Natal, declarei meu voto em Paulinho Freire.
Fiz a seguinte observação, achava que Natal ganhava com a derrota de Carlos Eduardo Alves, o qual, na minha visão, nada mais tinha a oferecer à cidade, e que um segundo turno entre Paulinho (União Brasil) e Natália Bonavides (PT) era mais promissor para a urbe.
Naquelas circunstâncias, disse, votaria contra Natália. Pois bem, veio um sujeito rebater minha declaração de voto, como se eu estivesse querendo abrir debate.
Ora, o meu perfil nas redes sociais é meu e, ali, eu escrevo sobre o que quero e declaro minhas preferências, sem interesse algum em debater. Respeito as declarações de todos e não vou ao perfil de ninguém contestar as preferências políticas (econômicas, sociais, sexuais) delas.
Quando quero debater escrevo aqui ou em outros canais semelhantes e os textos estão expostos a críticas. De qualquer tipo. Embora eu não as responda, a depender da forma delas e do humor do crítico.
Desculpem-me o imenso nariz de cera, mas assisti, ontem, no programa Em Pauta, da Globo News, um momento patético, quando a jornalista Sandra Coutinho e o analista político Demétrio Magnoli iniciaram um debate sobre um tema presentes nas análises acerca das eleições nos Estados Unidos, disputada por Kamala Harris e Donald Trump (https://x.com/0C0RV0/status/1852512945021784189).
A discussão começou quando Sandra Coutinho abordou o comportamento dos homens na eleição. “Eu tenho lugar de fala, o caminho para as mulheres é mais difícil”, disse. Demétrio argumentou que não era assim: “Eu também tenho lugar de fala, porque eu sou um analista político. Analiso os votos de todos os setores do eleitorado, em qualquer país. Isso é uma questão profissional. Se você diz que eu não posso analisar o comportamento de parte do eleitorado, nesse ou naquele país, você está proibindo que eu exerça a minha profissão”.
Em dado momento, sentindo-se acuada, Sandra partiu para as saídas usuais nos dias de hoje. Como a primeira cartada, a do lugar de fala, não silenciou o oponente, ela sacou a carta do mansplaining, expressão significa um homem comentar ou explicar algo a uma mulher de maneira condescendente, excessivamente confiante e, por vezes, imprecisa ou mesmo simplista, vilanizando o interlocutor.
Os internautas viciados nos argumentos expostos por Sandra Coutinho vibraram: “Sandra Coutinho fuzilando o Demétrio ao vivo na GloboNews”. “CLIMÃO! Sandra Coutinho é interrompida por Demétrio Magnoli na GloboNews e leva um FECHO da jornalista”. “TV: Demétrio Magnoli causa climão mais uma vez na GloboNews e desta vez leva invertida da jornalista Sandra Coutinho”.
Lacrar não é debater, e o que Sandra Coutinho fez ontem foi apenas jogar para a galera, sem maiores preocupações em estruturar o raciocínio, sem formular argumentos sólidos, mas apenas e tão-somente ganhar a discussão por meio de sua condição de mulher. É pouco, é vazio e é pobre, no entanto, há quem goste.
Os que gostam depois reclamam das reações em contrário tirando os mesmos frágeis argumentos expostos ontem por Sandra no Em Pauta.
Mas isso é outra pauta.