Maurício, a homofobia, o histerismo e a hipocrisia
As redes sociais e a imprensa foram novamente tomadas, nos últimos seis ou sete dias, por avassaladora onda de histeria e hipocrisia, iniciada quando o Minas Tênis Clube, por pressão de dois de seus maiores patrocinadores, resolveu demitir o jogador de voleibol Maurício de Souza, por supostamente ter expressado pensamento homofóbico nas redes sociais dele. Estava armado o cenário de guerra, com os linchadores de plantão (canceladores, no linguajar de hoje) e os defensores do atleta se enfrentando nas arenas virtuais.
Homofobia, homofobia, homofobia…
Racismo, racismo, racismo…
Machismo, machismo, machismo…
É o que há, é o que se discute, é o que se impõe para todos, mesmo para os que não querem discutir tais assuntos e para os que querem distância deles, não porque não importem tais temas, mas porque não suportam a parcialidade, as mentiras e a histeria que os envolvem.
Talvez alguém venha me chamar de alienado por isso. Paciência.
Talvez me acusem de homofóbico, de racista ou de machista. Paciência.
Assumo o ônus de expressar minha opinião, a saber, a de que o caminho para o totalitarismo não está no fascismo ou no nazismo ou no comunismo, mas nas seitas identitárias, que querem empurrar a todos as posições delas, sem abrir espaço algum para o contraditório. Digo isso, sem desmerecer gays, negros e outras etnias e mulheres, que devem ter os direitos deles, como indivíduos e cidadãos, respeitados.
Os debates sobre os temas nem merecem assim serem chamados, porque o que há é muita arenga e poucos argumentos. O extremismo dá as cartas: de um lado, machistas, racistas e homofóbicos empedernidos; do outro, tresloucados que negam a existência do preconceito contra mulheres, negros e outras etnias e gays. Qualquer um que tente acrescentar uma dosagem mínima de racionalidade à discussão será imediatamente rechaçado e acusado de ser o que nunca tentou ser.
Debate que é bom, zero. Só acusações, achincalhes, gritarias, histeria.
Faz tempo, um promotor de justiça chamou Simone de Beauvoir de baranga. O exército beauvorista reagiu chamando o promotor de bufão. E ficou quase só nisso, como se chamar alguém de baranga e de bufão fossem argumentos.
A tsunami das teses identitárias vem varrendo tudo o que encontra pela frente, e o que ocorre com o atleta Maurício de Souza é um exemplo. Nem entro no mérito da fala dele, se é ou não homofóbica, mas no cancelamento do sujeito, no achincalhe puro e simples, na negação, como já vi, de suas qualidades como atleta. Algumas falas e escritos elaborados por gente que adora dizer piadinhas sobre gays, negros e loiras e que agora, subitamente, foi tomada por uma consciência social que a transforma em polícia dos costumes. É o famoso “evoluí” dito por um apresentador de programa de TV.
Ninguém está livre de preconceitos. Todos os temos, em algum grau. Mantenho os meus sob estrita vigilância, para evitar constrangimentos desnecessários. Nada impede, quando o inconsciente se manifeste, que eles venham à tona. E é assim com todos, exceto com os preconceituosos doentios, porque estes assim o são e não escondem, nunca, o que são.
Há anos convivo com pessoas (homens e mulheres) que dizem no privado, em pequenos grupos, coisas estarrecedoras, que expressam os seus preconceitos e suas taras de forma aberta ou sutil, que são o exato oposto de como se apresentam em público. Pois bem, algumas delas estão vindo a público, nos últimos dias, quando a histeria assume o campo de batalha, para dizer aquilo que não são, aquilo em que não acreditam… Histéricos e hipócritas, transformaram-se em palmatória do mundo. “Evoluíram”? Não creio. Apenas jogam para a plateia, para as bolhas nas quais estão mergulhados.
Quanto ao Super-Homem bissexual, pouco me ocupo do tema. Não sou fissurado em quadrinhos. Li poucos. Assisti poucos filmes e séries sobre heróis (Super-Homem, Mulher Maravilha, Batman, etc). Nunca me atraíram muito. Mas do pouco que assisti, lembro – para usar as palavras de um amigo – que a sexualidade era coisa privada. Mesmo com os personagens dos quadrinhos supostamente tendo relações afetivas-amorosas uns com os outros, a coisa nunca passou de uma sugestão. E porque é assunto privado, a sugestão era feita e o resto preenchido pela imaginação de leitores, cinéfilos, fãs. Agora não, a sexualidade é só o que importa, é o que confere identidade ao personagem.
Falta criatividade aos redatores da turma. Poderiam criar outros personagens, com outras histórias. Isso, porém, identificaria a questão real, mostrando que a pretensão não é apenas o culto à diversidade.
Com essa turma Sade não entraria em campo. Seria juvenil.