Neolilberalismo e neoliberais

por Sérgio Trindade foi publicado em 24.nov.17

Roberto de Oliveira Campos concedeu entrevista ao programa “Roda Viva”, da TV Cultura, em meados dos anos 1990, na qual dizia desconhecer o neoliberalismo mas conhecer neoliberais.

Segundo Campos, o neoliberalismo é apenas um produto do liberalismo econômico neoclássico, uma redefinição do liberalismo clássico, influenciado pelas teorias econômicas neoclássicas. Logo não há uma escola neoliberal e sim uma escola liberal. Sendo assim, concluiu, o que existe por aí são apenas pessoas que aderiram ao pensamento liberal e não um pensamento neoliberal propriamente dito.

A origem do neoliberalismo deve ser remetida à Escola Austríaca, mais precisamente aos economistas Ludwig von Mises e Friedrich von Hayek (este discípulo daquele), que formularam o pensamento econômico a partir da Lei de Say e da teoria marginalista, contestadas pelo britânico John Maynard Keynes, contemporâneo de ambos.

O pensamento de Lorde Acton, de Adam Smith e de Jean B. Say foram fundamentais na construção e no desenvolvimento do pensamento de Hayek, pois enfatizava a importância central da moralidade no desenvolvimento de uma civilização avançada. Para Hayek, uma economia próspera e o desenvolvimento da lei como um processo evolucionário requerem uma sólida ordem moral. Sem isso não haverá uma sociedade saudável, próspera e livre.

A economia mundial experimentou praticamente duas décadas de crescimento contínuo, ainda no século passado. O lastro de tal crescimento está nos princípios liberais esboçados por Smith, Ricardo, Say, os neoclássicos, Hayek, Mises, Friedman, etc. O modelo, é verdade, tem suas limitações, mas garantiu crescimento econômico, superou uma sucessão de crises e legou à periferia do capitalismo um lugar de destaque no cenário mundial, com China, Índia, Rússia e Brasil (BRICs) apitando alto sobre os destinos do mundo econômico.

Quando a crise econômica engolfou os Estados Unidos e a Europa, na virada do século/milênio, não faltaram os que euforicamente apontaram a dura realidade e como a alegria é fugaz. Como por encanto, esquecemos que o subdesenvolvimento não é uma doença crônica, nem a periferia do capitalismo é o saco de pancadas do mundo desenvolvido.

As teorias terceiro-mundistas serviram durante anos para difundir uma tristeza generalizada contra o desenvolvimento e o risco que seria viver num mundo globalizado. Os seus formuladores e simpatizantes vibram quando há sinais de crise no ar. É o momento em que vêm à cena os Antônios Conselheiros, abundam os seminários e os fóruns alternativos que proclamam o fim do sistema e a emergência de um outro, mais justo e humano, no qual não haverá pobreza, pois a justiça social irá desabrochar e enraizar-se fortemente, tudo sob o comando do Estado-Babá. Os mesmos profetas do caos não piam quando a economia mundial vai bem, apenas usufruem das benesses do capitalismo explorador e injusto e torcem para que o trem saia do trilho, pois só assim poderão tornar audível a cantilena tosca e atrasada que adoram difundir.

Lula, Dilma, Mantega, Mercadante, Mirian Belchior, Ciro Gomes, José Serra, Fernando Henrique Cardoso e outros, do governo petista e tucano, não eram, não são e nunca serão liberais em economia – e nem em politica. Alguns alinharam-se com o propalado Consenso de Washington por necessidade. Os tucanos são, não há dúvidas, menos intervencionistas que os petistas; os democratas (ex-pefelistas) são patrimonialistas até a alma, e deram um demão de liberalismo, superficial.

A turma do PT sabe que a história e a política são nutridas por versões. Por isso aderiram, por conveniência tática, ao Consenso de Washington. Fez com o sistema que disse combater uma aliança conjuntural, oportunista, momentânea, mas mantiveram-se a postos para abandonar a aliança quando ela não mais lhe parecia servir. Antes disso, assaltaram o Tesouro, em benefício do partido e das lideranças partidárias.

Por Sérgio Trindade

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