Rentismo com estrela vermelha

por Sérgio Trindade foi publicado em 25.nov.23

Acusar adversários de rentistas é um dos esportes preferidos de petistas e esquerdistas (https://www.brasil247.com/economia/rentista-da-faria-lima-diz-que-lula-que-gerou-prosperidade-inedita-no-brasil-e-incompetente; https://pt.org.br/?s=ZAP), mas os números da economia brasileira, neste primeiro ano de Lula, demonstram que o figurino cabe à perfeição ao governo federal (https://www.poder360.com.br/tag/relatorio-bimestral-de-avaliacao-de-receitas-e-despesas/).

Antes de prosseguir, esclareço: não gosto do termo rentismo quando ele é dito apenas em tom acusador, porque carrega – e muito – traços (estou sendo indulgente) de hipocrisia. Semelhante àquilo que Roberto Campos, avô do atual presidente do Banco Central e jocosamente chamado de Bob Fields, dizia da nossa mania nacionalista: “O doce exercício de xingar os americanos em nome do nacionalismo nos exime de pesquisar as causas do subdesenvolvimento e permite a qualquer imbecil arrancar aplausos em comícios.” Pois é, xingar rentistas de gananciosos que lucram em cima da miséria alheia nos exime de pensar que somos parte da festa – ou somos idiotas.

Não vou discutir moralmente a questão do famigerado rentismo, só apontar a incongruência dos grupos de esquerda quando estão fora e quando estão aboletados no poder.

Para a esquerda, a Faria Lima quer sempre mais juros porque assim pode aproveitar das rendas advindas dos títulos públicos.

Bancos, em qualquer lugar do mundo, vendem dinheiro e certamente ganham muito com isso. Ou roubam, segundo alguns. Bertolt Brecht chegou a dizer que “o crime de assaltar um banco não era nada se comparado com o crime de fundar um banco”.

Se as taxas de juros se elevam, os bancos vão faturar muito. No entanto, é preciso entender que a lógica da dívida pública brasileira é mais complexa, porque o tomador de empréstimo, o governo, não pega dinheiro apenas dos bancos, embora, segundo dados do Tesouro Nacional, os bancos respondam por algo em torno de 30% do financiamento da dívida pública; o restante está nas mãos de muita gente. Além disso, se o governo estoura o limite de gastos ou se o custo real da dívida excede o crescimento econômico do país e o superávit primário, fazendo explodir a dívida pública, os financiadores da dívida pública, divididos entre uma multidão de agentes econômicos, inclusive vocês, meus três ou quatro leitores, cobram mais (juros maiores), dado o maior risco fiscal (maiores chances de inadimplência do tomador de empréstimos, a saber, o governo).

Os dados acima são todos dos anos de 2021 e 2022, portanto do governo Bolsonaro dirão os lulistas. Mas vejam os dados abaixo, todos extraídos das contas do governo atual.

O governo Lula projeta déficit primário beirando R$ 200 bilhões e uma dívida pública com custo médio de 10% ao ano. Fazendo as contas é possível constatar que a variação da dívida PIB é igual a R$ 200 bilhões, mais R$ 650 bilhões de juros, menos R$ 230 bilhões (projeção do crescimento de 2,3% do PIB), menos R$ 450 bilhões de variação nos preços e chegar à conclusão de que a dívida crescerá R$ 170 bilhões (https://sisweb.tesouro.gov.br/apex/f?p=2501:9::::9:P9_ID_PUBLICACAO:46036). Ou aproximadamente 1,7% do PIB. Dinheiro que encherá as burras dos rentistas, fruto da política econômica do governo… Lula.

Se estes números não estão tão bons em 2023, como estarão em 2024?

É improvável que o PIB cresça 2,3%, 2,4%, 2.5% de novo e que os juros caiam. Exceto se houver uma conjugação de fatores extraordinariamente especiais. Mantendo o ritmo de 3% de aumento, a dívida dobrará em 24 anos, até uma recessão puxá-la para algo em torno de 5% a 6% do PIB. Depois disso, manter 1,7% de crescimento do PIB se torna mais difícil, pois teremos mais serviço da dívida e, portanto, mais dinheiro carreado para os bolsos de… rentistas.

O déficit fiscal de 2023 foi revisado para R$ 177,4 bilhões e a Lei de Diretrizes Orçamentária (LDO) deste ano admite um déficit de até R$ 213,6 bilhões, o equivalente a 2% do Produto Interno Bruto (PIB). Os números levam em conta o Tesouro Nacional, a Previdência e o Banco Central (BC) (https://www.tesourotransparente.gov.br/temas/divida-publica-federal/estatisticas-e-relatorios-da-divida-publica-federal) e a revisão foi considerada muito negativa pelo mercado, pois as despesas chegando ao patamar de 19,4% do PIB significam uma expansão fiscal de 1,2% em apenas um ano, inédito para um primeiro ano de governo. Mais preocupante ainda porque é baseada em gastos permanentes. Resultado: mais dívida, mais juros e mais dinheiro para… rentistas.

Os dados fazem parte do Relatório Bimestral de Avaliação de Receitas e Despesas relativo ao quinto bimestre deste ano, divulgado pelo Ministério do Planejamento e Orçamento. A estimativa de receitas primárias em 2023 caiu R$ 13 bilhões, na comparação com o relatório anterior, ficando em R$ 2,359 trilhões.

O rentismo agradece.

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