A Escola e a revolução

por Sérgio Trindade foi publicado em 24.jan.22

Qualquer um que se aventure a enfrentar um desses manuais de educação modernosos vai se deparar com autores de ânimos exaltados a defender que o professor deve ter liberdade para lecionar criticamente. Um ou outro, travestido de intelectual imaginativo, chega a dizer que “escola que não é crítica, não é digna de ser chamada de escola”.

A palavra crítica, coitada, é muito espezinhada, maltradada, aviltada, vilipendiada. Sim, porque muitos que desejam a escola crítica, só a querem para que nela desfilem as críticas de mão única. Cheguei e ouvir alguns argumentarem, de forma cínica, que têm dificuldades de fazer os seus alunos se debruçarem sobre os textos que indicam, logo não poderiam pensar em “fazer a cabeça de ninguém”.

São os militantes de uma causa morta, de utopias regressistas, mas que insistem em se mostrar defensores de ideias e ideais superiores. E como viveram e vivem na e para militância, acusam os outros, os que à militância se opõem, de também fazerem o mesmo.

Lênin não incursionou com profundidade sobre os aspectos específicos da educação. Porém, mesmo não tendo escrito uma obra sobre educação em particular, alimentava profundo interesse e preocupação sobre o assunto, como registrou Althusser.

Vivendo para fazer política, o revolucionário russo expôs que a educação é um processo muito maior do que a escolarização, logo “os problemas da educação não se esgotam com os da escola; a educação de modo algum se limita à escola”, sendo uma falácia qualquer ideia que dissocie a educação escolar da política. Justamente por isso, diz ele num discurso proferido em 1919, uma das “hipocrisias da burguesia é a crença segundo a qual a escola pode ser apartada da política. Vocês sabem tão bem quão falsa essa crença é. A própria burguesia, a qual advoga esse princípio, faz de sua própria política burguesa a pedra angular do sistema escolar, e tenta reduzir a escola ao treino de servos dóceis e eficientes à burguesia, reduzindo a educação universal para o fim de treinar servos dóceis e eficientes para a burguesia, ou escravos e instrumentos do capital. A burguesia nunca pensou em dar à escola o sentido de desenvolver a personalidade humana”.

Como para Lênin e o seu grupo o que estava em questão era a necessidade da destruição violenta do Estado e das instituições feudais e burguesas e a luta ideológico-política, a construção de um partido revolucionário (quem posteriormente desenvolveu o princípio com maestria foi Antonio Gramsci, em seu clássico Maquiavel, a Política e o Estado Moderno, que precisa ser lido por qualquer um que queira aderir ou combater a chaga revolucionária) e sua atuação na educação política das massas era um dado crucial à causa e à construção da revolução socialista, ou como o próprio diz: “há e sempre haverá um elemento pedagógico na atividade política do Partido Social-Democrata. Nós devemos educar a totalidade da classe proletária para que eles assumam o papel de combatentes para a emancipação da humanidade de toda a opressão.”

Pois bem, muitos “inocentes”, que se vestem como professores, esquecem (ou não sabem?) que lá no alvorecer da Revolução de 1917, depois de matar a família real russa, Lênin demonstrou imensa preocupação “em revolucionar o Aparelho Ideológico do Estado escolar (entre outros) para permitir ao proletariado soviético, que se apropriara do poder do Estado, garantir nada mais nada menos do que o próprio futuro da ditadura do proletariado e a passagem para o socialismo”, registrou Althusser, inclusive mencionando o patético texto de Krupiskaia, companheira de Lênin, publicado em 1937, sobre “os esforços desesperados de Lênin, e o que ela via como o seu fracasso”.

Por aqui, nossos engajados militantes de sala de aula nunca leram a sério Althusser; socorrem-se do patrono da educação brasileira para matar qualquer possibilidade de reação ao que mata o espírito que dizem querer instilar, a saber, a crítica.

Mas isso é outra história e virá em outro texto.

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