A vítima não é culpada, é vítima

por Sérgio Trindade foi publicado em 08.set.18

Uma rápida passada d’olhos nas redes sociais é mais do que suficiente para identificar apressadinhos defendendo seus pontos de vista, digamos, pueris e nada gentis, acerca da culpa que Jair Bolsonaro tem do atentado que sofreu.

Vítimas de violência são vítimas; não podem ser culpadas pela violência que sofrem

É fato que o tal presidenciável já disse coisas terríveis sobre adversários políticos. Para dizer o mínimo, ele é açodado e infeliz em muitas das opiniões que emite (volto a este tema em outro momento), mas não pode ser responsabilizado pela facada que recebeu.

Muita gente que respeito e admiro caiu na esparrela de responsabilizar Bolsonaro pelo atentado que sofreu. Dizem que ele colhe o que plantou. Até uma ex-presidente andou escrevendo isso.

Quem defende o argumento afirma que Bolsonaro foi vítima da violência que ele prega. Li de um dos sábios: “Quem semeia vento colhe tempestade”.

Por esse raciocínio, a vítima da facada é algoz de si mesmo.

Gandhi, na esteira da luta que levou à independência da Índia, no final da década de 1940, foi assassinado quando era um dos apóstolos da não-violência. Sem semear vento algum, foi colhido por uma tempestade que abreviou sua estadia entre nós.

John Kennedy, que se encaminhava para renovar seu mandato presidencial nos EUA, sofreu um atentado em novembro de 1963. Não são poucos os estudiosos que registram que ele, responsável por aumentar a presença norte-americana no Vietnã, pretendia retirar progressivamente as tropas do sudeste asiático, dizendo não a uma guerra que parecia não fazer sentido.

Pouco menos de duas décadas se passaram desde o assassinato de Kennedy, quando John Lennon, autor do mais famoso hino pacifista pop, foi alvejado em Nova Iorque. Lennon que cantou um mundo livre de guerras foi morto por um fã abilolado. Pregando a paz, teve guerra.

O gatilho do ódio está envolto em bruma. Dispara por motivos banais.

 

 

Por Sérgio Trindade

posts relacionados
Logo do blog 'a história em detalhes'
por Sérgio Trindade
logo da agencia web escolar