A filosofia de Francis Bacon

por Sérgio Trindade foi publicado em 20.dez.24

O britânico Francis Bacon é autor de obra invulgar na Filosofia. Um de seus livros, Novum Organum, é um dos marcos da epistemologia.

Bacon desenvolveu crítica abalizada ao empirismo formulado Aristóteles, abrindo caminho para o reconhecimento da importância de entender o mundo por meio da experiência prática, sem aposentar o sábio grego, pois reconhecia correção no seu pensamento ao destacar a primazia do empirismo; para Bacon, o método aristotélico era suficiente para entender a lógica e a linguagem, insuficiente, contudo, para o entendimento correto da natureza.  A sua crítica ao empirismo aristotélico foi tão arguta e precisa que reordenou e reorganizou, por meio de outro método, as bases do conhecimento, a ponto de luminares da produção científica, como Galileu Galilei, arriarem diante de suas considerações, incorporando a formulação baconiana de método científico.

O método indutivo por ele formulado é preciso e eficaz para aqueles que querem conhecer a natureza de modo mais efetivo e está presente em grande parte dos trabalhos de pesquisa nas ciências naturais, as quais recorrem ao conhecimento empírico e se utilizam da crítica aos ídolos, tendo neles a percepção do que não se deve fazer. No prefácio, o próprio Bacon diz: “Nosso método, contudo, é tão fácil de ser apresentado quanto difícil de se aplicar. Consiste no estabelecer os graus de certeza, determinar o alcance exato dos sentidos e rejeitar, na maior parte dos casos, o labor da mente, calcado muito de perto sobre aqueles, abrindo e promovendo, assim, a nova e certa via da mente, que, de resto, provém das próprias percepções sensíveis”.

O método baconiano está assentado em quatro passos que acompanham o trabalho daquele que quer conhecer a natureza com maior certeza e veracidade: observar o meio de maneira ordenada e coletar dados da experiência de observação; organizar os resultados observados; formular hipóteses por meio dos dados obtidos; e realizar experimentos que comprovem ou descartem as hipóteses.

Sua teoria dos ídolos do pensamento é ponto de partida para estabelecer seu método. e reconhece duas grandes áreas de atuação da Filosofia: a concepção natural, que estuda as ciências naturais, a lógica e a metafísica e a concepção antropológica, que trata de temas relacionados ao convívio humano, como a política e a ética.

A sua teoria dos ídolos é um arrojado traçado segundo o qual os ídolos da tribo, da caverna, do foro e do teatro nos impedem de alcançar o conhecimento, pois imprime uma falsa imagem sobre as coisas, atuando como um filtro que modifica a cognição do objeto apreciado. São eles os

1) ídolos da tribo: fazem parte da tribo humana por pertencerem à nossa natureza e, portanto, dizem respeito à procura de ordens fenomênicas que nos põem falsas relações de causalidade. Para Bacon, há uma tendência de estabelecer vínculos causais por meio da observação do universo que nos levam à criação de uma falsa causalidade. É uma propensão humana de buscar a compreensão dos fenômenos à sua volta – o que, por sinal, movimenta a vontade humana de controlar a natureza, logo é “falsa a asserção de que os sentidos do homem são a medida das coisas. Muito ao contrário, todas as percepções, tanto dos sentidos como da mente, guardam analogia com a natureza humana e não com o universo. O intelecto humano é semelhante a um espelho que reflete desigualmente os raios das coisas e, dessa forma, as distorce e corrompe”;

2) ídolos da caverna: há uma individualidade que circunda todas as pessoas e que nos aprisiona, uma caverna, como a exposta por Platão n’A República, expressa pelo nosso próprio corpo e sentidos, os quais nos enganam. Como indivíduos, somos impelidos a confiar cegamente nos sentidos do corpo, pois cada um de nós temos uma caverna que impede a luz da natureza de entrar e quando a permite entrar, corrompe-a. É de bom alvitre lembra Heráclito, reconhecer “que os homens buscam em seus pequenos mundos e não no grande ou universal”;

3) ídolos do foro: nós temos e nutrimos uma concepção de vida humana, provenientes da vida social, a qual gera discursos formuladas pelo homem comum, muitas delas impostas e empregadas de maneira imprópria, bloqueando o intelecto e arrastando os homens a um sem-número de inúteis controvérsias. Tal ocorre porque a vida social é regida por regras de uma espécie de jogo da linguagem que apresenta como obstáculo para o verdadeiro conhecimento. Esclarece Bacon: “Nem as definições, nem as explicações com que os homens doutos se munem e se defendem, em certos domínios, restituem as coisas ao seu lugar. Ao contrário, as palavras forçam o intelecto e o perturbam por completo. E os homens são, assim, arrastados a inúmeras e inúteis controvérsias e fantasias”;

 

4) ídolos do teatro: tomam o espírito dos homens por meio das mais diversas expressões filosóficas, religiosas, fábulas, etc, pois fazem parecer “que as filosofias adotadas ou inventadas são outras tantas fábulas, produzidas e representadas, que figuram mundos fictícios e teatrais. Não nos referimos apenas às que ora existem ou às filosofias e seitas dos antigos”, expõe o filósofo britânico. A moral, os costumes, a tradição, a religião e uma quantidade expressiva de manifestações envolvem as relações sociais. Segundo Bacon, não se deve pensar apenas “nos sistemas filosóficos, na universalidade, mas também nos numerosos princípios e axiomas das ciências que entraram em vigor, mercê da tradição, da credulidade e da negligência”. Respeitar incondicionalmente esse invólucro ergue uma barreira para o verdadeiro conhecer.

A ideia central da teoria dos ídolos é a superação das antigas bases do conhecimento, assentadas no aristotelismo, por uma nova concepção que permita o maior desenvolvimento da ciência, a ponto de garantir o domínio humano sobre a natureza.

O método está presente em grande parte do trabalho de pesquisa nas ciências naturais. Os cientistas buscam proceder por meio desse método para induzir uma resposta, pois ele parte de um recorte de observação para formular uma teoria que se pretenda geral. O próprio Bacon, porém, apresenta a dificuldade de aplicação método: “Nosso método, contudo, é tão fácil de ser apresentado quanto difícil de se aplicar. Consiste no estabelecer os graus de certeza, determinar o alcance exato dos sentidos e rejeitar, na maior parte dos casos, o labor da mente, calcado muito de perto sobre aqueles, abrindo e promovendo, assim, a nova e certa via da mente, que, de resto, provém das próprias percepções sensíveis. Foi, sem dúvida, o que também divisaram os que tanto concederam à dialética.”

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