Sem pescoço, sem cabeça e sem caráter

por Sérgio Trindade foi publicado em 10.nov.23

Costa e Silva sentou na cadeira de Ministro da Guerra logo que o golpe de 1964 se consolidou. Ninguém conseguiu destituí-lo e ele usou o cargo para alçar voo rumo ao Palácio do Planalto.

Eleito Presidente da República no dia 3 de outubro de 1966, Costa e Silva foi o segundo mandatário do ciclo autoritário nascido em 1964, depois de emparedar o Presidente Castelo Branco, que tinha preferência por outros nomes: Cordeiro de Farias ou Juraci Magalhães. E mesmo civis, como Carlos Lacerda.

Depois que Costa e Silva foi eleito, as coisas transcorreram sem maiores sobressaltos, mas Castelo Branco encontrou uma forma de manifestar seu descontentamento. O protocolo determinava que o Presidente que deveria passar a faixa ao seu sucessor; Castelo, porém, deixou-a sobre almofada de cetim conduzida por um assessor.

Intelectual respeitado no Exército, membro do grupo jocosamente chamado de Sorbonne, Castelo Branco tinha a cabeça grande enterrada em pescoço curto e isso rendia piadas desagradáveis. Costa e Silva, por seu turno, considerado aluno aplicado nas escolas militares, não era muito chegado aos livros. Estudou a vida toda para tirar boas notas. Passado todo o ciclo de estudos da caserna, rendeu-se ao ócio. Por isso era considerado intelectualmente limitado. A substituição de Castelo Branco por Costa e Silva rendeu muitas piadas. A mais infame dizia que “o Brasil deixava de ser governado por um Presidente sem pescoço e passava a ser dirigido por um Presidente sem cabeça”.

***

No início de 2022, Lula, então candidato a Presidente da República, disse ser contra o teto de gastos. Justificava-se afirmando não precisar de uma trava fiscal como o teto de gastos por um motivo simples, sempre fôra um governante fiscalmente responsável. Palavras dele: “Fui o único Presidente da República que cumpriu o superávit primário durante todo meu mandato, dando demonstração de que responsabilidade não é questão de lei, é de caráter, por isso eu sou contra o teto de gastos”.

O hoje Presidente Lula dá demonstrações de que não quer ser obrigado a fazer superávit algum. Às favas a responsabilidade fiscal. Às favas o caráter.

Tivemos um sem pescoço e um sem cabeça. Temos ou teremos um sem caráter?

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