A política potiguar e o anedotário político (2)

por Sérgio Trindade foi publicado em 20.maio.23

A campanha política de 1960, quando Aluízio Alves e Djalma Marinho se enfrentaram na disputa pelo governo do estado, é pródiga em eventos pitorescos.

Naquele pleito eleitoral, a rua foi o espaço privilegiado do enfrentamento e a rua é, por excelência, o espaço do povo. Talvez por isso, Aluízio tenha vencido o embate, pois soube interpretar melhor os anseios populares por ter melhores atributos para empolgar as massas.

Até os adversários mais duros sabem que a rua foi o espaço, desde a segunda metade dos anos 1950, usado por Aluízio para levar a sua mensagem, como era também o espaço por meio e através do qual o povo podia exprimir os seus anseios. Houve, naquele momento, associação perfeita. O líder vinculou-se com força ao povo e vice-versa. Um parecia não querer abandonar o outro. Foi exatamente por tal vínculo que mudar, vencer e ajudar o povo passou a ser a tônica das falas do político nascido em Angicos. Os mais humildes o ouviam com empolgação, assim como os jovens, pois a mensagem transmitiam esperança, num quadro que beirava o messianismo político, como é possível perceber ouvindo o LP da gentinha: “Vim para lutar. Vim para ficar. Vim para vencer. Nada me impediria de vir: nenhum obstáculo, nenhum receio, nenhuma acomodação. Ouvimos, sentimos, avistamos a maior, a melhor, a mais poderosa força de convocação: a voz do povo. O povo desencantado dos campos: humilde, paciente, analfabeto, empobrecido, esquecido. O povo das cidades: esmagado, inquieto, inseguro. Os homens sem perspectivas para o trabalho fecundo e certo. A juventude forçada a repetir, geração a geração, os mesmos caminhos dos pais: na enxada, no emprego público, na semi-ociosidade; perdida nas ruínas do pauperismo comum. As mulheres com os filhos crescendo para morrer aos primeiros vagidos. As crianças que juntas em multidões já poderão ser ouvidas em gemidos crescentes pedindo assistências, escolas, proteção, futuro, vida. Aqui estou para lutar, para ficar, para vencer. Para, com o trabalho de muitos e o voto do maior número, abrir para todos a Porta da Esperança.”

As massas que seguiam o então jovem líder, fascinadas e extasiadas, vibravam.

Em Florânia, cidade que fica a 240 quilômetros de Natal, aconteceu um fato que ilustra o apego do povo ao seu líder.

Esperava-se a caravana que trazia Aluízio para discursar em praça pública. Houve um grande atraso, em virtude das péssimas condições da estrada (a maior parte do trajeto era de barro). A demora excessiva aumentou as desavenças entre os eleitores de Aluízio e os de Djalma Marinho.

Durante a campanha os adversários do candidato de oposição disseram que ele se comportava como um cigano, vagando pelas estradas, sem dormir, sem se alimentar direito, etc. Fiel ao estilo, ele adotou o apelido e passou a se dizer cigano-feiticeiro. Lia a mão das pessoas, “adivinhava” o futuro. Alguns eleitores entraram no clima e se vestiam de cigano. Em Florânia não foi diferente; uma eleitora dele fantasiou-se de cigana para recebê-lo e uma vizinha, para melar o encontro, aproveitou quando a ex-amiga (as amizades se desfaziam durante as campanhas políticas e aos poucos eram restabelecidas quando o ambiente desanuviava) passou sob a sua janela e jogou um penico com urina em cima da aluizista. A confusão foi formada, a turma do deixa-disso apareceu para serenar os ânimos e a aluizista aguardou, toda urinada, a chegada do seu candidato à cidade para mostrar o apreço e a admiração que por ele tinha.

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