A sucessão de Cortez Pereira – parte 1

por Sérgio Trindade foi publicado em 28.jun.20

Dos três governadores biônicos (Cortez Pereira, Tarcísio Maia e Lavoisier Maia) que estiveram à frente dos destinos do Rio Grande do Norte, a escolha de Tarcísio Maia foi, certamente, a mais difícil e traumática e também a única que revolveu o oligarquismo no estado. http://blogdobarreto.com.br/category/reportagem-especial/

Personagens da escolha do governador do Rio Grande do Norte, em 1974.

Iria contá-la num único texto, porém ele ficou demasiadamente grande e, por isso, tive de dividi-lo em duas partes.

Na primeira contarei como o nome de Tarcísio Maia surgiu. Na segunda, como foi feito o arranjo que o levou ao Palácio Potengi.

***

Em 1973 começaram os primeiros movimentos, nos bastidores da política potiguar, para escolha do futuro chefe do executivo estadual, mas foi somente em 1974 que aumentaram os entendimentos, pois naquele momento o mandato de Cortez Pereira, primeiro governador do estado escolhido indiretamente pelo regime de 1964, aproximava-se do fim.

Rondon Pacheco foi o emissário do presidente Médici, em 1970. Agora a missão caberia a Petrônio Portela.

Era o senador pelo Piauí o encarregado de conversar com os líderes da ARENA em cada estado e, como o seu antecessor na missão de quatro anos antes, Rondon Pacheco, quando veio ao Rio Grande do Norte, montou gabinete no SESC, no centro de Natal.

Petrônio Portela ouviu muito, conversou com todo mundo e foi para Brasília com uma lista formada de seis nomes, donde sairia aquele encarregado de governar o Rio Grande do Norte por quatro anos: Antônio Florêncio, uma vez mais Dix-huit Rosado Maia, Geraldo Bezerra, Moacir Duarte, Osmundo Faria e Reginaldo Teófilo.

O senador Dinarte Mariz tentava emplacar dois nomes: o genro Moacir Duarte e Dix-huit Rosado.

O senador Jessé Pinto Freire, presidente da Confederação Nacional do Comércio, indicou Reginaldo Teófilo, presidente da ARENA potiguar.

O governador Cortez Pereira carregou três nomes no bolso do paletó e os propôs a Portela: o deputado Antônio Florêncio, o secretário de Agricultura Geraldo Bezerra e, correndo por fora, Osmundo Faria, presidente do BDRN.

A disputa pelo cargo era dura e o consenso se tornou difícil e, por vezes, desleal, com denúncias contra os candidatos chegando ao Palácio do Planalto, o que levou o Presidente da República, Ernesto Geisel, a convocar o governador Cortez Pereira a Brasília e exigir o fim daquele clima de denuncismo e de guerra interna no seio da ARENA do Rio Grande do Norte.

O governador saiu da tensa reunião com Geisel, que bastante irritado com a luta intestina da ARENA do Rio Grande do Norte, segundo João Batista Machado, mandou zerar a lista e buscar outras opções, dizendo que a sucessão de Cortez Pereira transformara-se num denuncismo antropofágico e finalizando com um puxão de orelhas: “Na escolha do senhor, o Rio Grande do Norte deu uma lição de unidade ao país. Agora, fez justamente o contrário.”

Cortez Pereira saiu do Palácio do Planalto direto para o aeroporto, onde pegaria avião para o Rio de Janeiro, e lá encontrou-se, por acaso, com Esdras Alves que o cumprimentou e lhe confidenciou que o nome do futuro governador já estava decidido:  Osmundo Faria.

Cortez Pereira afirmou desconhecer a indicação, pois saíra há pouco de audiência com o Presidente Ernesto Geisel e este nada lhe dissera sobre a escolha, dando-lhe apenas a missão de pacificar o partido governista no estado.

Esdras insistiu e disse a Cortez que o deputado federal Grimaldi Ribeiro lhe informara que a escolha de Osmundo era certa e que nela estavam as digitais do próprio Grimaldi e do ex-governador Aluízio Alves. 

Chegando ao Rio, o governador recebeu telefonema do senador Dinarte Mariz e este lhe indagou se procedia o teor da conversa com Esdras, no aeroporto de Brasília. Após a confirmação de Cortez, Dinarte agradeceu, despediu-se e desligou o telefone.

Pouco depois o telefone tocou novamente e desta vez era o Ministro da Justiça Armando Falcão, que diz ter conversado com Dinarte e este lhe confirmou a escolha de um candidato a governador do Rio Grande do Norte indicado pelo deputado Grimaldi Ribeiro e pelo ex-governador Aluízio Alves, adversários dele. Após ouvir a confirmação do teor da conversa, Armando Falcão reagiu dizendo que aquilo era um absurdo, porquanto Aluízio ser “um proscrito pela Revolução” e portanto não deveria “participar de uma escolha que compete ao Governo Revolucionário”, encerrando a conversa com um “Dinarte merece respeito.”

Osmundo, que não tinha o aval de Dinarte Mariz e contava com a simpatia tímida do governador Cortez Pereira, sabia que precisava de um padrinho forte para ter chances mínimas de chegar ao Palácio Potengi e o buscou por meio do empresário Gustavo Faria, sobrinho do general Dale Coutinho, Ministro do Exército.

Para garantir apoio político mais sólido no estado, Osmundo tentou, junto ao seu amigo Grimaldi Ribeiro, aproximar-se do ex-governador Aluízio Alves, que, mesmo cassado, tinha boas relações com algumas lideranças do regime, como do general Golbery do Couto e Silva, Chefe da Casa Civil do Presidente Geisel, do senador João Agripino e do também senador Petrônio Portela, coordenador do processo de escolha dos governadores, como dito acima, os dois últimos seus amigos dos tempos da União Democrática Nacional (UDN).

Dias depois, Petrônio Portela disse, nos corredores senado, ao encontrar com Osmundo, que ele era homem de muita sorte, por que contava com o apoio do Ministro do Exército para governar o Rio Grande do Norte.

A indicação de Osmundo Faria foi confirmada no gabinete de Petrônio Portela, na presença do deputado Grimaldi Ribeiro, do chefe do escritório do Rio Grande do Norte em Brasília Ronaldo Ferreira Dias e do próprio Osmundo, decidindo-se que o anúncio oficial seria dali a alguns dias.

Dinarte Mariz, incrédulo, ouviu de Petrônio Portela que a escolha de Osmundo Faria estava feita, faltando apenas o anúncio oficial. Revoltado, Dinarte reagiu, afirmando não aceitá-la porque estava associada a Aluízio Alves, seu maior adversário no Rio Grande do Norte.

Posto numa saia justa, Petrônio Portela indicou que Dinarte deveria, então, falar com o presidente Geisel e expor a situação.

Dinarte enviou carta, por meio do senador maranhense Vitorino Freire, que tinha acesso fácil acesso a Geisel, dando as razões do seu veto a Osmundo, no entanto, apesar de ter sido bem aceita, não houve retrocesso, dada a força do padrinho de Osmundo, o ministro do exército, o general Dale Coutinho.

O anúncio foi marcado para o dia 27 de maio de 1974.

Tudo corria à perfeição para Osmundo Faria, quando o imponderável entrou em cena e, no dia 25, Dale Coutinho morreu, vítima de infarto fulminante, e deixou o placar zerado. http://www.natalpress.com.br/site/colunistas/56-dalton-melo-de-andrade/3451-a-mesma-coisa-por-dalton-melo-de-andrade

Uma nova lista (com os nomes Fernando Abott Galvão, Genário Fonseca e Tertius Rebelo) surgiu e, esperto, Dinarte Mariz incluiu o nome de Tarcísio Maia, ampliando-a.

O caminho para garantir o nome de Tarcísio Maia era de alguém muito próximo ao Presidente Geisel: Golbery do Couto e Silva, que, já informado da intenção do senador Dinarte, recebeu-o para acertarem os detalhes para obter o apoio do governador Cortez Pereira, que se mostrou receptivo ao nome do presidente do IPASE. Mas aí é outra história.

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