Não sou anti-vax

por Sérgio Trindade foi publicado em 11.nov.23

Um dos mais eficazes imunizantes que já tomei (e continua tomando) é o da leitura, inoculado em mim pelo meu pai, nos anos 1970.

Quando eu ainda andava de calças curtas, papai dizia: “Sérgio, se você tiver tempo de ler dez livros, leia cinco que dizem uma coisa e cinco que digam o contrário. Só assim você saberá diferenciar quem está mentindo.”

O ensinamento do meu sábio pai, dado a leitura mas que estudou apenas até o final do ensino fundamental, salvou-me de cair nas garras do marxismo, especialmente do mais vulgar, que corre em algumas salas de aula e corredores das universidades brasileiras, difundido por alguns professores (poucos mas insistentes e militantes) e absorvido por alunos inimigos da leitura plena e efetivamente crítica.

Dois cursos universitários, Ciências Econômicas e Filosofia, fizeram-me abrir os horizontes de leitura e foram vacinas complementares eficazes. Completaram o trabalho que meu pai começou.

Cheguei a ser simpatizante, no início dos anos 1980, dos partidos comunistas e depois fui fiel e cego eleitor de um outro que, a despeito de não ser comunista, flertava e ainda flerta com teses socialistas. Meu pai, falecido em 1983, ainda testemunhou minha cegueira ideológica e nunca me admoestou por isso.

Segui cego até o início dos anos 1990 e progressiva e paulatinamente fui mudança de posição. Eleitor do mesmo partido, porém crítico quanto às suas posturas, até que chegou um momento, já no início deste século, de mudança.

Os livros, sempre eles, deram-me um sinal. Fui lendo novos e relendo antigos, e eles me mostravam novos caminhos. Segui-os.

Esta semana estava relendo Os intelectuais, de Paul Johnson, e me deparei com esta passagem, marcada por mim tempo atrás, e na qual o autor critica fortemente a postura anticientífica de Karl Marx quando analisa as condições de trabalho dos operários nas fábricas inglesas do século XIX: “Como ele (Marx) não estava disposto a fazer nenhuma pesquisa de campo própria, (…) teve de deturpar sua principal fonte de informação para não abandonar sua tese. O que se percebe depois de uma leitura de O Capital é a incapacidade inata em Marx de entender o capitalismo. (…) O livro era, e é, desonesto em sua estrutura (…). Ele fracassou exatamente por não ser científico. Toda sua obra reflete desconsideração pela verdade.”

A crítica de Johnson tem razão de ser, a saber, Marx fez pesquisas de campo apenas em fábricas sucateadas, com maquinário defasado, algumas funcionando ilegalmente, etc. para confirmar o que chamava de superexploração do trabalho do operário.

O papa do socialismo científico, diz Johnson, não fazia ciência. Manipulava dados para confirmar as hipóteses que formulava e que a realidade dizia serem equivocadas.

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