Winston Churchill, o Estadista
Líder com aura de herói, herói mesmo de guerra na juventude e primeiro-ministro durante quase toda a segunda guerra mundial, Winston Churchill, se vivesse nos dias atuais, teria dificuldades descomunais para conduzir-se na vida pública.
Fumante inveterado e beberrão, o maior britânico de todos os tempos, segundo enquete feita pela BBC em 2002, teria de explicar o tempo todo suas posições politicamente incorretas, afinal foi um imperialista empedernido, que chegou a cogitar em deixar Gandhi morrer, caso o pacifista indiano fizesse greve de fome quando foi prisioneiro dos ingleses durante a segunda guerra mundial, defendeu o uso de gás mostarda contra tropas otomanas durante a primeira guerra mundial, mandou reprimir, com mão de ferro, em 1908, quando era ministro do interior, uma greve operária, no País de Gales, etc.
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Seus críticos dizem que ele era machista, racista, reacionário, fervoroso defensor do Império britânico e anticomunista empedernido (certamente uma de suas grandes virtudes).
Mesmo reconhecendo os seus erros (grandiosos como grandioso foi Churchill), continuo vendo-o como o maior estadista do século XX e um dos maiores de todos os tempos.
Nos últimos dias assisti várias vezes, quase sem parar, dois filmes – Dunkirk e o O destino da Nação – e li alguns capítulos dos livros de Jon Meacham (Franklin e Winston: a intimidade de uma amizade histórica) e de Lord Roy Jenkins (Churchill), este considerado a melhor biografia sobre o grande líder britânico para afirmar e reafirmar o que já penso sobre a excepcionalidade de Churchill.
O dia 4 de junho de 1940 foi, para milhares soldados britânicos, encurralados na cidade portuária de Dunquerque, no norte da França, o dia da sobrevivência.
Graças à ordem pessoal de Hitler para que ofensiva nazista cessasse e a um ardil pensado e proposto por Churchill, mais de 300 mil soldados conseguiram retornar à Inglaterra em barcos.
A Batalha de Dunquerque ocorreu entre os dias 25 de maio e 4 de junho de 1940 e até hoje estudiosos discutem os motivos que levaram Hitler a não permitir que as tropas britânicas fossem massacradas.
Teria ele pensado em chegar logo a Paris ou aguardava que as forças pró-acordo de paz na Inglaterra garantissem uma aproximação entre alemães e britânicos, praticamente fechando o front ocidental e permitindo que o líder nazista lançasse suas tropas contra a União Soviética?
Os dois filmes acima citados demonstram a grandeza política de Churchill e se encerram com um dos mais emblemáticos e históricos de seus discursos, motivando a nação para continuar a luta. Reproduzo, abaixo, a parte mais tocante e mais forte:
“Muito embora grandes extensões da Europa e antigos e famosos Estados tenham caído ou possam cair nos punhos da Gestapo e de todo o odioso aparato do domínio nazista, nós não devemos enfraquecer ou fracassar. Iremos até ao fim. Lutaremos na França. Lutaremos nos mares e oceanos. Lutaremos com confiança crescente e força crescente no ar. Defenderemos nossa ilha, qualquer que seja o custo.
Lutaremos nas praias, lutaremos nos terrenos de desembarque, lutaremos nos campos e nas ruas, lutaremos nas colinas; nunca nos renderemos, e se, o que eu não acredito nem por um momento, esta ilha, ou uma grande porção dela fosse subjugada e passasse fome, então nosso Império de além-mar, armado e guardado pela Frota Britânica, prosseguiria com a luta, até que, na boa hora de Deus, o Novo Mundo, com toda a sua força e poder, daria um passo em frente para o resgate e libertação do Velho.”