O cinismo de Lula
Alguns intelectuais orgânicos do PT e muitos dos militantes do partido estão em polvorosa e acelerados para explicar as contradições entre o discurso e prática de Lula, eleito a bordo de uma enorme frente partidária que deveria nortear o seu governo, mas que é conveniente e frequentemente esquecida.
Para conseguir o feito, esse pessoal faz todo tipo de contorcionismo. Muitos, de maneira voluntária, por crença; alguns por dinheiro, cargos e benesses.
O grande combustível da eleição presidencial de 2022 foi o antibolsonarismo; como na de 2018, o antipetismo deu as cartas.
Impedir a reeleição de Bolsonaro foi, na visão de parcela significativa do eleitorado brasileiro, além de um imperativo democrático, uma proteção civilizatória.
Terminada a eleição, seria hora de Lula conduzir a transição rumo à pacificação do país, afinal foi o que ele mais disse durante a campanha. Mas não é, efetivamente, o que vem sendo feito.
Não se sabe se Lula conduz ou se é conduzido.
É possível perceber que o presidente manteve a frente unida, ainda que ela pareça não apitar muito nos rumos do governo. Ou seja, ela é frente para engrossar o caldo, mas não para governar. Será chamada a apoiar o governo com votos no Congresso Nacional, mas não para definir políticas públicas. Como à época do mensalão, o filme se repete. O guru da turma diria que como tragédia e a seguir como farsa.
Semana passada, o presidente Lula, em viagem à China, cravou mais uma de suas estultices em política internacional, pondo a Ucrânia como responsável, em igual condição, pela guerra que lhe move uma Rússia interessada em destruir o país governado por Volodymyr Zelensky. Sob o aplauso da nossa esquerda jurássica.
Para um candidato que cobrou compaixão, sensibilidade e humanidade durante a pandemia, a insensibilidade, a inércia e a frieza de Lula e de seu governo contra o povo ucraniano, vítima do maior ataque europeu desde o fim da segunda guerra, revelam que a empatia não é o traço mais marcante e definidor da personalidade do presidente brasileiro. Talvez o cinismo lhe faça melhor figurino.
Lula não é neutro ou pragmático, também não age em busca da paz e tampouco dá importância aos direitos humanos. O presidente do Brasil e líder petista sempre gostou de confraternizar com ditadores e não faz caso de destruir, como fez o seu antecessor, a tradição diplomática soberana e altiva do Brasil. Revela, sem nenhuma vergonha, costume rústico e picaresco de país subdesenvolvido conduzido pelo orgulho e pela presunção de seus líderes e pela boçalidade e ignorância de legiões de miseráveis.
Atuando como “diplomata” de Moscou, Lula espezinha e degrada ainda mais a imagem do Brasil para uma comunidade internacional ressabiada com nosso país, revelando ao mundo o que qualquer brasileiro minimamente razoável e crítico sempre soube – que ele nunca teve qualquer compromisso com a justiça e com a verdade dos fatos.
Os ucranianos, mesmo derrotados e oprimidos ao fim da guerra, rejeitarão e rechaçarão à agressão russa, enquanto nós, brasileiros, únicos responsáveis por nossa miséria e embriagados por nossa classe dirigente, permaneceremos incapazes de resistir à nossa miséria intelectual e à nossa barbárie.
O apocalipse deixou de ser um medo e passou a ser uma esperança.