Centro órfão
Sai pesquisa, entra pesquisa, desde 2016-17, o que mais se constata é que o centro político permanece vazio, órfão.
A direita e a esquerda agarram-se a Jair Bolsonaro e Lula.
As pesquisas têm mostrado que Bolsonaro dissolve como Cebion solto n’água, mas mantêm quase intacto aquele percentual fiel de 20% a 30% do eleitorado que torce o nariz para qualquer viés mais à esquerda e tem se mostrado forte, coeso e engajado, sem dar sinais de que queira abandonar a nau bolsonarista.
É preciso ir além dos números, como já ensinava Roberto de Oliveira Campos, pois eles escondem informações pr’além das aparências que anunciam (dizia ele que dados estatísticos são como biquíni em mulher: mostram o acessório e escondem o essencial).
Os maiores perdedores com a polarização política são os centro, direita e esquerda.
A esquerda e a centro-esquerda estão patinando, pois nenhum de seus principais nomes – Ciro, Marina, Haddad ou Lula – consegue avançar. Chegaram a recorrer a Fernando Henrique Cardoso, um aposentado que saiu de cena há muito tempo, como ele mesmo chegou a dizer, sem contar outro aposentado, por desrespeito à lei, Luiz Inácio Lula da Silva, excluído pelo código penal.
O discurso parece não seduzir o eleitor conservador ou moderado e, por isso, os níveis de aprovação e desaprovação deles permanecem estagnados ou quando crescem estão dentro da margem de erro ou um pouco acima dela.
O centro parece estar abandonado, porque tem faltado ideias e/ou líderes. Sem ele tonificado, o Brasil corre o risco de, mais uma vez, oscilar entre a toxidade dos dois polos.
Mesmo com a queda acentuada do atual ocupante do Palácio do Planalto, nenhum de seus potenciais adversários, seja qual for o campo político, tem muito a festejar.
O presidente da Câmara de Deputado, Rodrigo Maia, é rejeitado por mais de 60% dos eleitores; João Dória até chegou a ostentar bons níveis de aprovação, nada empolgante; Fernando Haddad, que disputou o segundo turno com Bolsonaro, não é benquisto por mais de 50% do eleitorado; Lula, a esperança de dez entre dez simpatizantes da esquerda nociva, tem mais de 50% de imagem negativa.
Haddad e Lula, ressalte-se, têm em torno de 30% de imagem positiva, números que os aproximam do índice histórico que o PT carrega nos pleitos presidenciais.
A esperança que já foi Lula está, no momento, depositada no ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro, não mais ocupando cargos públicos mas vedete, ainda, nos meios de comunicação.
E, agora, como articulista do jornal O Globo, no qual estreou dia 3 de junho último, com o texto Contra o populismo. https://oglobo.globo.com/opiniao/contra-populismo-24459212
O caminho até 2022 é longo e ainda nem começou.
Ou se começou, está nos primeiros passos.