O segundo turno entre o centro e a esquerda
Nunca se faltou tanto às eleições como neste 2020 – o índice de abstenções foi o maior para pleitos municipais dos últimos 20 anos (de 23,1% contra 17,6% no primeiro turno de 2016). O fenômeno pode, a se conferir, ter sido ocasionado pela pandemia do coronavírus.
As eleições municipais, seja qual for o desfecho em algumas das principais capitais do Brasil, permitem apontar que o eleitor brasileiro fugiu dos extremos políticos.
O centro-esquerda, o centro e o centro-direita ocuparam o palco.
O DEM, antigo PFL, que parte da esquerda jurou ter matado em meados da primeira década deste século, ressurgiu.
Não será muito fácil avaliar a força do presidente Jair Bolsonaro, porque ele está sem partido e seus aliados estão dispersos por várias siglas. É possível, porém, dizer que a atuação dele foi no mínimo desastrada e que alguns dos candidatos aos quais ele se vinculou perderam fragorosamente no primeiro turno e os que chegaram ao segundo estão enfraquecidos.
Pela esquerda, o PSOL teve um desempenho julgado surpreendente por muitos analistas políticos, disputando o segundo turno em São Paulo e em Belém.
O PSOL, nunca devemos esquecer, é uma costela do PT e como este está doente e internado na UTI política, lá posto pelo eleitor, o partido de Edmílson Rodrigues e de Guilherme Boulos assumiu a proeminência na geografia esquerdista da política nacional (https://noticias.uol.com.br/eleicoes/2020/11/15/edmilson-rodrigues-e-eguchi-disputam-2-turno-em-belem.htm).
Edmilson Rodrigues vai disputar o segundo turno em Belém (PA), com o apoio do PT e de outros partidos de esquerda, e Guilherme Boulos disputará o segundo turno contra Bruno Covas na capital paulista. Toda a esquerda, da democrática à radical, está com Boulos; a direita, com Covas.
Pesquisas já apontavam o crescimento de Boulos nas últimas semanas, indicando tendência de voto útil. A de boca de urna, feita pelo IBOPE, projetava 25% dos votos para o psolista e as urnas confirmaram as previsões de segundo turno para o candidato do PSOL, ainda que abaixo do que estava sendo projetado, com Boulos tendo pouco mais de 20% dos votos e Covas quase 33% (https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/11/boulos-enfrentara-covas-no-segundo-turno-em-sao-paulo-projeta-datafolha.shtml).
Ninguém parece querer a proximidade de Bolsonaro. Príncipe em 2018, o presidente hoje é ogro em São Paulo – e mesmo em outras cidades nas quais haverá segundo turno.
Os votos de Boulos vieram certamente de petistas que não aceitaram a candidatura de Jilmar Tatto e de jovens que creem naquela abstração chamada vontade política.
A moderação está dando as cartas na campanha de Covas.
Boulos tenta pôr de pé, nas duas semanas de campanha do segundo turno, estratégia e discurso que tragam o paulistano refratário ao esquerdismo radical e juvenil para as hostes psolistas, numa espécie de Boulosinho Paz e Amor. E as pesquisas apontam que tem surtido efeito, dada a diminuição da diferença entre ele e o atual prefeito e candidato a reeleição (https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/11/datafolha-em-sao-paulo-boulos-chega-a-45-e-reduz-diferenca-para-covas-com-55.shtml).
Em Belém, a disputa é ainda mais acirrada. Edmílson Rodrigues, do PSOL, tem 45% das intenções de votos, contra 43% de Eguchi, do Patriotas. (https://noticias.uol.com.br/eleicoes/2020/11/21/belem-edmilson-e-eguchi-surgem-empatados-no-2-turno-em-pesquisa-do-ibope.htm).
Só a abertura das urnas em Belém e em São Paulo dirá quem são os vencedores.