Pitombas

por Sérgio Trindade foi publicado em 12.set.22

O caso que segue é real e, para preservar a identidade de todos, recorreremos a pseudônimos.

Num tradicional colégio natalense, um grupo de alunos do pré-vestibular, liderado por Francisco Sales de Oliveira, a quem todos chamavam de Carrapicho, aprontava em praticamente todas as aulas.

Uma professora, em especial, por ser muito meiga e falar muito baixo, era a que mais sofria nas mãos da patota. Até futebol os alunos jogavam durante suas aulas, em duplas, com partidas de cinco minutos ou um gol, porque sempre havia uma equipe de fora, no aguardo para entrar na brincadeira. A algazarra era total.

Certo dia, cansados de jogar bola, a rapaziada resolveu inovar e encheu as palhetas dos ventiladores (à época condicionadores de ar eram artigos de luxo) da sala de aula com caroços e cascas de pitomba e mantiveram, porque o tempo estava frio, os aparelhos desligados.

Com pouco mais de 10min de aula, um deles reclamou:

– Professora, está fazendo muito calor. Posso ligar os ventiladores?

Um outro rebateu:

– Não, está calor. Não precisa ligar os ventiladores. E eles fazem muito barulho e isso vai atrapalhar a sua explicação, professora.

Um terceiro aluno também solicitou que os ventiladores fossem ligados, um quarto recusou e logo a confusão se estabeleceu, com a professora tendo dificuldade para conter a algaravia.

Muito solícito e prestativo, Carrapicho propôs uma solução, já sabendo qual seria o desfecho de sua proposta, afinal estava tudo combinado com praticamente todos os alunos.

– Professora, assim, com essa discussão, não tem quem consiga se concentrar e estudar. Acho que os ventiladores não devem ser ligados, mas como há um impasse aqui, com a turma dividida, proponho uma votação. O que maioria decidir, todos acataremos. O que a senhora acha?

Ingênua, a professora Arlete Neves acatou a proposta do diplomático Carrapicho e fez a votação, ao final da qual foi decidido, por três votos de diferença, que os ventiladores seriam ligados.

A decisão encerrou a aula e selou a demissão da doce mestra, tendo em vista a bagunça generalizada que se estabeleceu quando começou a voar caroços e cascas de pitomba para todo lado.

A professora e a turma receberam uma dura reprimenda do diretor da escola.

Ao final do ano, a professora Arlete foi desligada do corpo docente da escola e a turma seguiu seu rumo, com alguns alunos ingressando na UFRN, na ESAM, na UERN e na UNIPEC.

filtre por tags
posts relacionados
Logo do blog 'a história em detalhes'
por Sérgio Trindade
logo da agencia web escolar