A Copa do Mundo e o tortuoso caminho dos hipócritas

por Sérgio Trindade foi publicado em 23.nov.22

Li, ontem, texto de Ricardo Noblat, no Twitter, exigindo desculpas da polícia do Catar por ter hostilizado jornalista que conduzia bandeira do estado de Pernambuco e a confundiu com estandarte LGBT. Conforme relatou o jornalista Victor Pereira, ele e o grupo que o acompanhava foram coagidos porque a bandeira de Pernambuco tem o arco-íris, associado aos LGBT e proibido no país (https://g1.globo.com/pe/pernambuco/noticia/2022/11/22/autoridades-do-catar-tomam-bandeira-de-pernambuco-de-brasileiros-apos-jogo-da-copa-do-mundo.ghtml).

A democracia e os direitos humanos, ainda que apontados como vigorosos elementos civilizacionais no mundo ocidental, assim não são vistos no Oriente Médio. A única democracia que existe naquele canto do mundo é o Estado de Israel, constantemente atacado por radicais islâmicos, lá, e por intelectuais de esquerda do mundo ocidental, mundo afora.

O Catar, sede da Copa de 2022, é parte do mundo árabe, portanto avesso a muitas das conquistas da civilização ocidental, entre elas as de mulheres e gays. Os seus costumes não mudarão por causa da Copa do Mundo, que só ocorreu no país porque a FIFA dobrou-se, por conveniência financeira e outras coisas mais, aos milenares ditames culturais árabes.

O Catar foi escolhido, em 2010, para sediar a Copa deste ano (https://www.cnnbrasil.com.br/esporte/entenda-como-a-fifa-escolheu-o-catar-como-sede-da-copa-do-mundo-de-2022/). Todos que quiserem sabem onde é e o que é o Catar. Se queriam sinceramente resistir deveriam tê-lo feito muito antes, e não quando o evento começou.

Nunca confiei plenamente no ser humano, porque desconfio que somos (toda a humanidade) bárbaros com algum verniz civilizacional.

Sou um cético que tenta não ser. Por isso até entendo que um ou outro apressadinho saque do seu arsenal histórico e teórico argumentos para acusar a civilização ocidental de ter dado as bases e as justificativas para os atos de barbárie perpetrados por fundamentalistas islâmicos contra os Estados Unidos, a Inglaterra, a Espanha, a França e outros países ao longo do século XX e nos primeiros anos do século XXI.

Não dá para negar que a civilização ocidental cometeu inúmeros atos de barbárie ao longo de sua história e um número muito superior do mais fundo vigor civilizacional.

O Estado Islâmico, por exemplo, ou qualquer outro grupo fundamentalista não têm a seu favor um único ato que possa ser confundido com traço nobre de civilização. É barbárie pura. E mesmo assim conta com o hipócrita e o suicida relativismo cultural de parte dos intelectuais do ocidente, travestido de reflexão histórica, política, sociológica, antropológica, filosófica.

Gerir exige tomar decisões difíceis e elas nascem de conflitos. Como li em artigo há certo tempo, “Precisamos de mais Churchill e menos Lennon”. Por isso, como disse o estadista inglês, é “preferível ser irresponsável e estar com a verdade a ser responsável e fincar os pés no erro”. Tudo na hora certa.

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