A Copa do Mundo e o tortuoso caminho dos hipócritas
Li, ontem, texto de Ricardo Noblat, no Twitter, exigindo desculpas da polícia do Catar por ter hostilizado jornalista que conduzia bandeira do estado de Pernambuco e a confundiu com estandarte LGBT. Conforme relatou o jornalista Victor Pereira, ele e o grupo que o acompanhava foram coagidos porque a bandeira de Pernambuco tem o arco-íris, associado aos LGBT e proibido no país (https://g1.globo.com/pe/pernambuco/noticia/2022/11/22/autoridades-do-catar-tomam-bandeira-de-pernambuco-de-brasileiros-apos-jogo-da-copa-do-mundo.ghtml).
A democracia e os direitos humanos, ainda que apontados como vigorosos elementos civilizacionais no mundo ocidental, assim não são vistos no Oriente Médio. A única democracia que existe naquele canto do mundo é o Estado de Israel, constantemente atacado por radicais islâmicos, lá, e por intelectuais de esquerda do mundo ocidental, mundo afora.
O Catar, sede da Copa de 2022, é parte do mundo árabe, portanto avesso a muitas das conquistas da civilização ocidental, entre elas as de mulheres e gays. Os seus costumes não mudarão por causa da Copa do Mundo, que só ocorreu no país porque a FIFA dobrou-se, por conveniência financeira e outras coisas mais, aos milenares ditames culturais árabes.
O Catar foi escolhido, em 2010, para sediar a Copa deste ano (https://www.cnnbrasil.com.br/esporte/entenda-como-a-fifa-escolheu-o-catar-como-sede-da-copa-do-mundo-de-2022/). Todos que quiserem sabem onde é e o que é o Catar. Se queriam sinceramente resistir deveriam tê-lo feito muito antes, e não quando o evento começou.
Nunca confiei plenamente no ser humano, porque desconfio que somos (toda a humanidade) bárbaros com algum verniz civilizacional.
Sou um cético que tenta não ser. Por isso até entendo que um ou outro apressadinho saque do seu arsenal histórico e teórico argumentos para acusar a civilização ocidental de ter dado as bases e as justificativas para os atos de barbárie perpetrados por fundamentalistas islâmicos contra os Estados Unidos, a Inglaterra, a Espanha, a França e outros países ao longo do século XX e nos primeiros anos do século XXI.
Não dá para negar que a civilização ocidental cometeu inúmeros atos de barbárie ao longo de sua história e um número muito superior do mais fundo vigor civilizacional.
O Estado Islâmico, por exemplo, ou qualquer outro grupo fundamentalista não têm a seu favor um único ato que possa ser confundido com traço nobre de civilização. É barbárie pura. E mesmo assim conta com o hipócrita e o suicida relativismo cultural de parte dos intelectuais do ocidente, travestido de reflexão histórica, política, sociológica, antropológica, filosófica.
Gerir exige tomar decisões difíceis e elas nascem de conflitos. Como li em artigo há certo tempo, “Precisamos de mais Churchill e menos Lennon”. Por isso, como disse o estadista inglês, é “preferível ser irresponsável e estar com a verdade a ser responsável e fincar os pés no erro”. Tudo na hora certa.