O governador aviador
Já ouvi a história, com nuances, envolvendo vários personagens, mas a melhor mesmo é a sobre um ex-governador nordestino.
Chamarei o governador de Eustáquio Maranhão e não indicarei o estado que ele governou.
Eustáquio Maranhão fez curso de pilotagem de aeronaves e se especializou na área.
A experiência trouxe bons frutos para o estado, quando ele foi governador, ali pelo final da década de 1990, a economia de algo próximo a 70% com serviços mecânicos do avião do executivo estadual, com o governador acompanhando pessoalmente os serviços de manutenção da aeronave.
A assessoria de imprensa do governo do estado explorou muito o assunto, o que rendeu boas manchetes nos jornais do estado e principalmente na mídia de circulação nacional.
As matérias exaltavam a austeridade do governador ao gastar o dinheiro do contribuinte.
Os chaleiras e puxa-sacos começaram a cumprimentar o governador sempre associando-o aos temas aeronáuticos.
Numa visita ao interior do estado, num longínquo município sertanejo, Eustáquio Maranhão foi recebido por várias autoridades que passaram a cumprimentá-lo. No fim da fila estava o bêbado oficial da cidade para cumprimentá-lo.
Acostumado com o chaleirismo, os cumprimentos vão se sucedendo e invariavelmente remetem à competência aeronáutica do governador.
– Governador Eustáquio Maranhão, o senhor é um verdadeiro Santos Dumont da aviação!
– Excelentíssimo Governador, o senhor é um verdadeiro falcão voador!
– Ilustre mestre da aviação e Governador deste nobre estado, o senhor é um verdadeiro condor dos ares.
– Chamam-no de Governador, mas este homem é um verdadeiro realizador de grandes obras, destrói a pobreza a golpes certeiros, é um verdadeiro predador. Um gavião dos sertões.
Após o oitavo orador, o bêbado grita:
– Governador, o senhor não é Maranhão coisa nenhuma, o senhor é um verdadeiro carai-de-asa!
Por Sérgio Trindade