Bacuraus
Em tempos de pós-Lava Jato, quando morremos como moscas e nossas lideranças políticas não conseguem chegar a um consenso sobre planejamento para enfrentamento de um vírus, debrucei-me sobre textos antigos e pincei a informação sobre a qual redijo abaixo.
Há três anos, o Brasil ainda vivia a euforia da Lava Jato, quando políticos de todas as colorações ideológicas estavam sendo expostos pelos malfeitos.
Assistimos pelas mais diversas mídias a prisão de Henrique Eduardo Alves, filho do ex-deputado federal, ex-governador e ex-ministro Aluízio Alves, maior liderança política do Rio Grande do Norte, na segunda metade do século passado, e patriarca de uma das mais antigas e sólidas oligarquias familiares do Brasil.
A prisão de Henrique logo açulou imensas parcelas da sociedade potiguar, e veio à tona, com força, o termo com o qual eram e ainda são chamados os partidários da família Alves: bacuraus.
O que é um bacurau e por que são assim designados os eleitores e partidários da família Alves?
Bacurau é o nome de uma ave, de hábitos crepusculares e noturnos. Segundo Protásio Pinheiro de Melo, na sua Contribuição indígena à fala norte rio-grandense, o nome de origem tupi é onomatopaico e derivado do seu canto (uacuráua).
Por chegar a Natal tarde da noite, uma linha de trem que fazia o percurso Recife-Natal foi batizada de bacurau.
Também são assim chamadas as pessoas que têm hábitos noturnos ou que só dormem tarde da noite.
O apelido foi dado aos membros da segunda Cruzada da Esperança, quando Aluízio Alves, governador, apoiava a campanha do monsenhor Walfredo Gurgel à governança estadual.
De acordo com João Maria Furtado, no livro Vertentes, Aluízio Alves nomeou centenas de pessoas para cargos comissionados na calada da noite de 3 de julho de 1965, data-limite para fazer tais nomeações, por meio de uma edição extra (clandestina, segundo Furtado) do Diário Oficial do Estado.
Aluízio Alves, que sabia se apropriar das agressões e dos chistes dos adversários, fez o que já fizera durante sua campanha ao governo do estado, em 1960, ao adotar o apelido cigano-feiticeiro – assumindo o apelido bacurau que até hoje identifica os eleitores e simpatizantes da mais longeva oligarquia potiguar.