O Rio Grande do Norte e a expansão da Rede Federal de Educação Tecnológica

por Sérgio Trindade foi publicado em 03.out.21

Ando, desde sempre, desencantado com os rumos educacionais do Brasil. Mais ainda quando me deparo com gestores que atuam no sentido de atender à própria vaidade, mesmo que discursem, quase sempre, em prol do povo, dos mais necessitados, etc, reproduzindo, no sentido macro, o que lideranças políticas fazem em espaços mais concorridos. Isso não me impede, porém, de reconhece méritos onde méritos há, sem fechar os olhos para erros, quando e se identificados.

Sou professor do Instituto Federal do Rio Grande (IFRN) e nele ingressei quando era Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio Grande do Norte (CEFET-RN), no momento em que tinha início a primeira fase da expansão da Rede Federal de Educação. Ocupei, por dois momentos, cargos de gestão (Coordenador de Comunicação Social na unidade da Zona Norte e Diretor Acadêmico na unidade de Santa Cruz), além de ter participados de comissões (Comissão Permanente de Pessoal Docente – CPPP e Comissão Própria de Avaliação – CPA) e outros espaços de gestão e ouvi de atores locais que se destacaram na organização e na condução da expansão da unidade potiguar muitas e boas histórias sobre como o processo foi pensado, ainda no final dos anos 1980, e como ele transcorreu de lá para cá.

Não vou me alongar muito. Ficarei do início, durante o governo de José Sarney, até o primeiro mandato de Dilma Rousseff.

Ouvi de muitos que, certa vez, conduzindo um Ministro da Educação pelos corredores da unidade central do CEFET-RN (atual campus Natal Central do IFRN), o professor Getúlio Marques, atual Secretário Estadual de Educação, foi subitamente interrompido pelo Ministro com uma pergunta: “Quanto custaria para construir e manter uma escola igual a esta?”. Fazendo conta rápida, Getúlio apontou um valor e, prontamente, o Ministro disparou: “Então vamos construir outras”.

Essa história correu como rastilho de pólvora de meados da primeira para o início da segunda década deste século.

Em conversa comigo, quando eu estava fazendo trabalho para justificar a fase dois da expansão, o professor Francisco Mariz, veterano de oito lustros da instituição, na qual ocupou os mais diversos cargos, incluindo o de Diretor Geral (atual cargo de Reitor) por mais de dez anos, contestou a versão acima exposta e afirmou, peremptoriamente, ter sido Fátima Bezerra, atual governadora do Rio Grande do Norte, a grande responsável pela expansão do então CEFET-RN: “O governo Lula não teve inicialmente o propósito da expansão. Foi a deputada federal Fátima Bezerra que adotou a ideia da expansão, quando já no governo Lula lançou a semente da expansão da educação profissional e buscou, via emendas parlamentares, os recursos para a ampliação. Um pouco antes, inclusive, chegou a procurar a Direção Geral dizendo de seus propósitos e se apropriando de alguns estudos que nós já tínhamos feito sobre os arranjos produtivos locais”.

Professor Francisco Mariz

 

Um dos maiores conhecedores dos meandros da Rede Federal de Educação Tecnológica, o professor Mariz, além de me prestar depoimento esclarecedor, indicou-me documentos e estudos que foram fundamentais para que eu pudesse elaborar os textos que embasaram e justificaram o surgimento de pelo menos nove unidades do IFRN (Apodi, Caicó, Canguaretama, Ceará-Mirim, João Câmara, Macau, Santa Cruz, São Paulo do Potengi e Pau dos Ferros).

Pelo depoimento de Mariz (e de outros gestores e ex-gestores do IFRN) e conforme está disponível em diversos documentos oficiais, a ideia de expansão da Rede Federal de Educação Tecnológica pode ser dividida em dois momentos.

O primeiro projeto nasceu ainda durante o governo de José Sarney e consistia na abertura de 200 escolas técnicas e agrotécnicas em todo o país. O Rio Grande do Norte seria contemplado com três escolas, nos municípios de Mossoró, Currais Novos e Caicó. Do projeto inicial, porém, somente três dezenas saíram do papel em todo o país e, destas, uma veio para o Rio Grande do Norte, a de Mossoró, já no governo de Itamar Franco, quando foi finalizada e inaugurada no final de 1994, entrando em pleno funcionamento no início do ano letivo de 1995.

Somente mais de uma década depois, o governo de Lula deu seguimento à expansão propriamente e o Rio Grande do Norte foi contemplado inicialmente com três novas unidades – Zona Norte de Natal, Ipanguaçu e Currais Novos –, em 2006, e posteriormente com mais seis: Apodi, Caicó, João Câmara, Macau, Pau dos Ferros e Santa Cruz, em 2008 para 2009. Mais à frente, outras unidades foram abertas.

A expansão só foi possível com a alteração da legislação que então impedia o governo federal de abrir e manter escolas técnicas. Feita a alteração, aí sim, o papel do professor Getúlio Marques, disse Mariz, “foi essencial no sentido de fazer as articulações para abertura das unidades do CEFET-RN (IFRN), garantindo os recursos necessários para tal”.

Atualmente, o IFRN tem vinte e uma unidades espalhadas pelo estado e um campus especializado em ofertar educação à distância.

posts relacionados
Logo do blog 'a história em detalhes'
por Sérgio Trindade
logo da agencia web escolar