A série O Mecanismo é só uma ficção
Terminei de assistir, ontem à noite, a série O Mecanismo, obra de ficção que agitou alguns setores à direita e à esquerda, especialmente aqueles ligados ao Partido dos Trabalhadores, a ponto de provocar declarações sentidas da ex-presidente Dilma Rousseff e alopradas de outras lideranças, incluindo ameaça de processo à Netflix por parte de Lula e de cancelamento de assinatura pela militância mais, digamos, aguerrida e pouco pensante.
Inicialmente achei a série fraca e pouco criteriosa quanto à seleção dos fatos. Depois percebi o óbvio – é apenas uma ficção baseada em fatos reais.
Os juízes da Lava Jato têm tomado decisões baseadas em delações premiadas de criminosos que esclarecem os fatos que vieram à lume quando das investigações acerca de casos de corrupção na Petrobras – nenhum deles tomaria decisões com base nas narrativas da série exibida na Netflix.
Por ser uma obra de ficção, O Mecanismo não precisa fazer referências objetivas a fatos históricos reais – ainda que esteja claro a ligação entre O Mecanismo e a Operação Lava Jato.
Artistas das mais diversas área, especialmente os de televisão e cinema e os grandes astros da música e dos esportes, ocupam o imaginário social e tornaram-se onipresentes nos mais diversos meios de comunicação, pois entram diariamente em nossas casas.
Tal configuração aproxima ficção e realidade, embaralhando as fronteiras entre elas. Por isso, qualquer narrativa e/ou abordagem feita n’O Mecanismo geraria celeuma e assanharia a militância de lado-a-lado.
A polêmica gerada pela série da Netflix é uma extensão da narrativa do golpe, que foi parcialmente eficaz para empolgar e manter a militância em guarda mas é esquálida para fundamentar estrategicamente algo mais sério.
Por Sérgio Trindade