Quem não se comunica, se trumbica!

por Sérgio Trindade foi publicado em 07.set.20

O texto a seguir é do colega e amigo Luiz Roberto, professor de Filosofia.

Lembra da máxima do Velho Guerreiro?

Pois é, o saudoso Chacrinha, se tivesse a chance de ressuscitar hoje, muito provavelmente morreria nova e imediatamente, só que dessa vez seria de tédio, por causa do império autoritário do politicamente correto.

Pretendo voltar a esta velha máxima em um instante…

Antes, não posso deixar de fazer menção à missiva de contra-resposta escrita por vosmicê, endereçada a este indivíduo de pouca monta intelectual, que se apresenta aqui.

Sou obrigado a dizer que vosmicê captou perfeitamente o espírito do tempo, conseguiu descrever o que ocorre hoje no IFRN. Suas ponderações foram argutas e, em muitos casos, quase perfurocortantes. Deve ter gente sentindo a própria carne sangrar. Por si só, esse tom de respostas já me deixou tentado a rebater.

Agora, voltando ao saudoso Abelardo Barbosa, mencionado logo aí acima, sou obrigado a dizer que lembrei dele por conta de algumas reflexões estabelecidas em seu texto. E é sobre estas, especificamente, a relação CONSUP X Gestão, e as arengas presentes aí, que mais chamaram minha atenção.

As impressões que estavam sendo maturadas em minha alma, foram confirmadas.

Vosmicê disse o seguinte: “Convocar reuniões extraordinárias sem-fim, com o objetivo de paralisar a administração, como fizeram membros do Conselho Superior (CONSUP), não era, como eu cheguei a dizer, uma forma eficaz de combate, mas uma infantilidade administrativa, que um dia poderia ser usada, de várias maneiras, contra o próprio CONSUP”. 

Perceber isso, imediatamente, me levou a constatar certa inaptidão em todos os contendores. Não que eu defenda este tipo de altercação em uma instituição de ensino como a nossa, mantida com dinheiro dos pagadores de impostos. Entretanto, é o que está posto aí.

Mas, ora! É claro e evidente, para não deixar de usar, quase em forma de maltrato, nosso amigo Descartes, que não trabalhamos efetivamente para este ou aquele gestor, como voismicê e eu já dissemos aqui. E para admitir isso não é necessário ser um filósofo de marca maior, basta recorrer ao aparato legal que rege nossa instituição. Assim, qual a lógica de atravancar o andamento regular da instituição? Isso faria bem a quem? Por que aquela certeza – a de não sermos servidores de personalidade qualquer – não é reafirmada cansativamente pela gestão?

É claro que estas foram perguntas meramente retóricas. Precisamos simplesmente, e não digo isso sem certa reserva, voltar à condição sine qua non para a existência de uma instituição de ensino, qual seja, a relação imediata e pungente entre dois personagens relevantes, o aluno e o professor, e as consequentes aulas, ainda que não presenciais.

Me incomoda ainda perceber que o monsieur Josué, Reitor pro tempore/interventor (para agradar a todos os públicos), exercendo a função que exerce, não chamar determinados grupos a chincha, como se diz no linguajar popular, para mostrar que o caminho não pode ser o da paralisação institucional. Conversando com todos publicamente, mostrando a disposição para o debate público sobre a melhor saída para a instituição. Usando os meios institucionais para divulgar adequadamente tais certames.

É necessário que o bom senso surja de algum lugar, ou tem que ser instigado. Ninguém mais adequado do que a autoridade máxima da instituição, temporária ou não, para instilar isso. Os meios são inúmeros.

Aposto que me inquires: isso seria uma ciência exata? Sensibilizaria a todos? Daria resultados positivos? Certamente que não tenho como afirmar taxativamente isto, mas algo efetivo teria sido feito. E, no final das contas, os recalcitrantes que arquem com o ônus de jogar o erário público na sarjeta.

O que não se pode aceitar é a persistência da infantilidade e irresponsabilidade das acusações de todos os teores, e provocações, que são a ordem do dia, em reuniões dos Conselhos institucionais. Normalizar isso, em nome de uma resistência, ou do combate a uma resistência, é, no mínimo, temerário.

Um outro elemento, que caminha pari passu ao que vem sendo pensado, é a questão: Por que não nos comunicamos adequadamente? Ou, ao menos, por que não tentamos nos comunicar? Devemos isso aos alunos e à sociedade. Se a comunicação for bem feita, conseguiremos mostrar ao maior número possível de pessoas qual a conjuntura institucional.

Quem não se comunica, se trumbica! Eita, Velho Guerreiro!!!

Por que não são manejados os meios adequados para divulgar o que vem sendo feito, bem como, por bem ou por mal, a assunção de que ali existe e subsiste unicamente uma gestão cumprindo um papel temporário. E esta gestão deve ter ciência disso, e trabalhar por isso. Comunicar isso. Insistindo no ponto em que assim que as coisas estiverem resolvidas na justiça, os trâmites legais serão cumpridos. E ocorrerá, ou não, a posse do reitor eleito, ou haverá uma outra consulta interna.

Isso ajudaria a distensionar as coisas?

Talvez! Ou não! Mas ele, o gestor, o diria em alto e bom e seria obrigado a manter uma aliança entre o que diz e o que faz.

Eu penso que cabe ao papel da gestão, e porque não dizer dos Conselhos, é martelar nesta tecla. Chamando todos à responsabilidade institucional, independente da coloração ideológica, tentando convencer o público interno e externo do que está a ocorrer. Buscando demover certas pessoas que estão tendo posturas inadequadas, de sua inadequação para a instituição no momento.

A comunicação, se bem feita, gera convencimento, gera pressão. A pressão descambaria em uma correlação de forças, externas e internas, que pode ser salutar para o transcurso à normalidade da vida ifeerreana.

É forçoso que saiamos da bolha e nos percebamos em perspectiva ampla, inseridos em uma sociedade complexa. Para tanto, é imprescindível uma comunicação bem feita e, acima de tudo, consciente. O reitor deve ter consciência do papel que está exercendo, para conseguir fazer com que voltemos minimamente à normalidade. Ele, mais que ninguém, deve objetivar isso, trabalhar por isso. Mas uma vez, COMUNICAR isso!

Ói! Para finalizar tenho que admitir, miseravelmente para mim mesmo: sei que não sou daquelas pessoas contempladas com um bom aporte intelectual, daqueles que cause distinção. Mas este reconhecimento da opacidade de dada qualidade, me capacitou com predicados outros. Fez com que eu nutrisse uma inveja saudável por variegadas personalidades que possuem tal qualidade, baseada no reconhecimento e admiração. E sempre consegui fazer isso, seja por meios das letras, por me defrontar com o caráter das pessoas, da eloquência, da presença de espírito etc. Ao mesmo tempo, também consigo perceber, sem maiores problemas, os mandriões, a mendacidade intelectual, a canalhice.

Por conta disso, consigo mal e porcamente notar que, é impositivo que se realize uma apologética das virtudes, pois nossos vícios estão se notabilizando com muita força. Corremos do risco de chegar um momento em que não tenhamos mais como agir virtuosamente por nossa própria vontade. E aí teríamos que ser forçados para a virtude.

A pergunta que queda é a seguinte: quais meios seriam utilizados para nos remeter às virtudes republicanas?

Aí, talvez, só nos restará remover o fundo do baú da história do querido Chacrinha e dizer: “Tudo o que aconteceu comigo aconteceu porque aconteceu.”

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